Religião Africana


O Idioma Yorubá

O idioma Yorubá pertence à família de línguas do Sudão, tendo sido escrito pela primeira vez no século 19, por missionários cristãos e falado nas diferentes regiões da atual Nigéria. Era um idioma estritamente oral, tendo sido utilizado os fonemas latinos para dar uma forma escrita aos sons das palavras ouvidas. Chegou até nós no periodo da escravatura, tendo se tornado a língua geral falada nas comunidades negras. Seu ultimo refúgio foi nas comunidades de candomblé, nas modalidades Kétu, Èfòn, Ìjèsà e demais que se utilizam de elementos culturais Nagôs. Tem sido mantida através de cântigos, rezas e expressões diversas, estando aí um dos fortes motivos para a manutenção de tradições seculares. O seu conhecimento deveria estar no mesmo nível de interesse do conhecimento de atos religiosos, o que não vem ocorrendo. Por esse motivo é utilizado mais pelo hábito de ouvir e repetir palavras, sem o conhecimento necessário de sua articulação e aprendizado de suas regras básicas de conservação.
Como os demais idiomas, é um instrumento para a comunicação entre as pessoas numa sociedade em que, tudo o que se faz têm o apoio de rezas, cântigos, e declamações neste idioma. Dependendo do grau de instrução que se tenha ou do cuidado com que se fale, pode-se usar a língua correta ou incorretamente. Quando usado corretamente, consagram as normas do culto. Mas se usada incorretamente, dá origem aos “vícios de linguagem” que, em longo prazo, desfiguram o idioma e, sem que se dêem conta, acabam contribuindo para difundir os erros e até mesmo incorporá-los ao idioma. Para confirmar, basta verificar como são diferentes a forma de expressar as palavras de muitos cântigos, rezas e conversações simples, de terreiro para terreiro. Esta é uma das razões da dificuldade encontarada na tradução para se saber o que se canta e o que se reza.
A perda do som original de muitas palavras, e os vícios já creditados como corretos, impedem a interpretação de certas palavras que ao serem traduzidas, não conferem com o desejo do momento. Esta situação vem dando margem a que pessoas, no afã de traduzir, substituam essas palavras por outras que mais lhe convém, provocando mudança total no sentido daquilo que se deseja naquele momento. Em outros casos, a tradução fica destituída de significados, passando a não ter nenhuma relação com o ato que está sendo feito naquele momento. São pessoas predispostas a exibir conhecimentos para os quais não foram qualificadas por falta de seriedade científica, pelo fato do que for apresentado poder vir a ser aceito como autêntico, criando novos vícios para uma religião plena de problemas a serem solucionados.
A linguagem é a chave cultural de um povo. Sem rever seus aspectos, origem e formas, não podemos nos construir na religião, pois na maioria das vezes não se sabe o que se canta e o que se reza.
O seu aprendizado será a resposta para muitas dúvidas que existem na religião. Mas não somente em saber interpretar os cântigos e rezas como forma de curiosidade, mas sim pelo fato de poder sentir mais intimamente, através do seu conhecimento, o alto grau de religiosidade que existe nas mensagens. E a sua utilização terá uma extensão maior ao ser empregado também na literatura humana e de uso corrente.
O alfabeto Yorubá é muito similar ao português, exceto para algumas letras que são pronunciadas de forma diferente. Compôe-se de 18 consoantes e 7 vogais:
A B D E E F G GB H I J K L M N O O P R S S T W Y.
Como pode ser observado não são utilizadas as letras C,Q,X,Z e V.
. .
Letras repetidas acima que se utilizam de um ponto em baixo: O, E, S
Vogais Orais: A E E I O O U . .
Vogais Nasais: AN, EN, IN, ON, UN
O Yorubá como língua Tonal, utiliza-se de três sons: alto, médio e baixo ou grave, representados por acentos superiores nas vogais: acento agudo, som alto, acento grave, som baixo e sem acento, indicando o som médio ou a voz normal. Isto quer dizer que eles não devem ser confundidos com nossos acentos. Um ponto colocado embaixo das vogais E e O, lhes dá o som aberto, caso não o tenham terão o om fechado. As vogais quando seguidas da letra N, terão um som nasal. A letra S com um ponto embaixo tem som de X ou CH, caso não tenha, terá o som natural da letra S.
Pronúcia de algumas letras:
G: tem um som gutural ou seja, deve ser lido como em Gostar e nunca como em Gentil.
H: tem som expirado aproximado de rr.
J: tem som de dj, como em adjetivo, adjacente, adjunto.
R: leia como em arisco, nunca tem o som de rr.
W: tem o som de u.
Y: tem o som de i.
S: tem o som normal, sendo que, caso tenha um ponto ou tracinho embaixo, terá o som da letra x.
P: tem o som de kp, que devem ser lidos juntos.
GB: deve ser pronunciada com as duas letras juntas.
A Estrutura Silábica da língua Yorubá consiste de qualquer vogal ou de uma consoante seguida de uma vogal. Como consequência do Yorubá ser uma lingua tonal, a mesma consoante combinada com uma vogal poderá formar diferentes palavras com tons, acentuações diferentes, comom por exemplo:
Ra: no tom médio significa raspar
Rá: no tom agudo ou alto significa rastejar
Rà: no tom grave significa comprar, amarrar.
Wá: no tom agudo significa procurar, vir, dirigir, dividir.
Wà: no tom grave significa ser, existir, haver.
Os pronomes pessoais antecedem todos os verbos Yorubá. isto quer dizer que devemos especificar o sujeito de todo verbo Yorubá para que se saiba quem fala, com quem se fala e de quem se fala.
Os verbos não se alteram na conjugação, eles são distinguídos pelos pronomes, e os tempos são conhecidos por marcas indicativas de tempo. vejamos alguns:
Ti: faz o tempo passado; também significa a palavra já, para enfatizar uma ação feita.
Kò máa dáwò lóní: Ele não cosntuma jogar hoje
O vocabulário Yorubá tem sido ampliado por meio de disversos procedimentos. Dentre as palavras criadas, muitas foram resultantes da utilização das partes do corpo humano, é utilizado para definir as coisas altas e destacadas; as mãos, as coisas que dão segurança, os pés, para uma firmeza, os olhos como a parte principal de alguma coisa, as nádegas, como a base do corpo. Deste modo, podemos relacionar algumas palavras:
Orí: cabeça
Òkè: montanha
Orí òkè: topo da montanha
Orí igi: topo da árvore
Ojú: olhos
Orùn: sol
Ojúorùn: disco solar
Bajé: estragado
Inú: estômago
Inúbàjé: aborrecido
A linguagem se utiliza bastante da técnica de figura da fala na construção de seu vocabulário.A extensão figurativa do uso da palavra para abranger outros significados é mais usada entre os Yorubás do que em muitos outros idiomas. Algumas frases, se não forem bem compreendidas, poderão sugerir outras interpretações, como vem ocorrendo na interpretação muitos cantigas na roda de candomblé.
O Yorubá raramente inventa uma palavra novamente. Procura combinar a semelhança do novo objeto já familiar. A composição é então formada para designar o novo objeto. O trem, o avião, o navio foram introduzidos na cultura na mesma classe dos meios de transporte. A palavra chave é Okò (colocar um ponto embaixo das letras O) Como foram designados:
Okò okun(mar)= navio
Okò irin(ferro)= trem
Okò òfurufú(ar)= avião
Aprender um idioma é o mesmo que aprender qualquer outra habilidade: exige prática. Há uma diferença entre compreender o significado de uma palavra e falar um idioma. É isso que vem acontecendo nos candomblés. Não é de hoje que se canta o que se ouve sem a menor preocupação de se entender o que canta, as variações dessas mesmas cantigas de uma casa para outra e muitas vezes sendo da mesma nação. A facilidade de como as pessoas criam e inventam palavras, aglutinando-as, colocando acentos e aportuguesando o Yorubá, como que quisessem reinventar o idioma, que já sofreu com seus dialetos, fora a eluta para manter o idioma Yorubá, pode ser corrigidoas através dos bons cursos de língua Yorubá, basta ter humildade e vontade de aprender o correto independente da idade de iniciação que tenha.
Pesquisa: ICAPRA-Instituto Cultural de apoio a Pesquisa às Tradições Afro.
Professor: José Beniste responsável pelo curso de Yorubá

Yánsàn, a mulher Búfalo.


Um Lindo Itan sobre Yánsàn, a Mulher Búfalo.
Um dos insígnias mais representativos de Yánsàn são os chifres de búfalo, é comum vermos Oya dançando com esses chifres à tira colo (Oya Ni O To Iwo Efon Gbe – “Oya é a única que pode agarrar os chifres do Búfalo”). Eles também são usados para “evocar” a grande Deusa dos ventos, conforme ilustra-nos a história a seguir:
“Lutar e levantar o pó como o búfalo” foi quem jogou Ifá para o caçador. Eles disseram que ele deveria fazer um sacrifício para se casar. O Caçador sacrificou dois galos, duas galinhas, cerveja de milho, búzios e pães de inhame. O Caçador fez o sacrifício.
Um dia este Caçador foi para o campo, quando subiu para a sua plataforma de vigia, viu um Búfalo, mas quando tentou virar a sua arma para ele, o Búfalo transformou-se numa bela virgem vermelha (Oya – Yánsàn). Quando ela acabou de tirar o disfarce, o Caçador viu-a escondê-lo atrás de uma árvore. No entanto, Oya não observou que o Caçador a tinha visto.
Quando a mulher Búfalo foi embora, este Caçador deixou a sua vigia, e pegou o disfarce de Oya, colocando-o em sua bolsa, seguindo-a até o mercado. Quando chegaram lá, este aproximou-se dela, cumprimentou-a e disse a ela que tinha vindo ao mercado em busca dela. Este Búfalo que tinha se transformado em mulher respondeu: “alguma coisa de errado?” O Caçador respondeu que queria se casar com ela. A mulher Búfalo disse que não ia se casar com ninguém. Na terceira vez que o Caçador se aproximou com estas palavras, ela perguntou se ele tinha visto alguma coisa por trás dela. O Caçador respondeu que sim. A mulher Búfalo disse: “o que você viu por trás de mim”? Então o Caçador disse que ela deveria ir com ele para que ele pudesse dizer o que tinha visto por trás dela.
Quando saíram do mercado, o Caçador botou a mão no saco e retirou o disfarce mostrando para ela. Quando ela viu o disfarce, disse que ele deveria ter pena dela e que ela se casaria com ele. A mulher Búfalo voltou ao mercado, reuniu as mercadorias e saiu com o Caçador, mas enquanto estavam na estrada, ela disse que ele não deveria comentar nada daquilo com ninguém; e o Caçador afirmou que não diria nada. Assim, ela se tornou sua esposa e eles viveram juntos na casa dele.
Esta mulher começou a ter filhos, mas a esposa com quem o Caçador se casara primeiro, começou a importuná-lo, perguntando onde ele tinha encontrado a segunda esposa, pois ele não comentara o assunto. O Caçador disse que ela era filha das mulheres que vieram ao campo para comprar carne com ele. A resposta não satisfez a primeira esposa e ela começou a indagar se ela tinha vindo desta ou daquela cidade.
O Caçador respondeu que era de uma cidade diferente, mas ainda assim isto não satisfez à mulher. E ela começou a fazer perguntas. Enquanto perguntava, a mulher Búfalo teve o seu primeiro filho, e o segundo filho. A primeira esposa foi ao filho mais velho do Caçador e discutiu o assunto com ele. O filho mais velho pegou o pai e deu-lhe muito vinho de palma para beber. Quando o caçador bebeu, seu filho perguntou: “onde encontrou a sua esposa?” Ele respondeu que ela era um Búfalo, que ele a tinha visto retirando o disfarce no campo, e que ele tinha pego o disfarce e ido ao mercado com ela, que tinha mostrado a ela o disfarce e que daquele dia em diante, ela tinha sido sua esposa.
Quando o filho mais velho do Caçador chegou em casa, contou isto para sua mãe. Depois de um tempo, o Caçador se aprontou e foi para o campo, mas no segundo dia após a sua partida, sua primeira esposa pegou um pedaço de madeira e atirou-o ao chão para parti-lo (é um tabu jogar a madeira contra o chão desta maneira na casa de um caçador).
A mulher Búfalo perguntou se o marido delas não a teria avisado que ela não deveria quebrar a madeira desta forma na casa dele. Então a primeira respondeu com desdém: “cuide de sua vida e vá embora! você é um ser humano e um animal, o seu disfarce esta escondido no telhado.” Quando a mulher Búfalo ouviu isto, respondeu: “ha!” e ficou quieta. Aprontou-se e foi procurar no telhado. Quando chegou lá, encontrou o disfarce onde o Caçador o tinha escondido e o trouxe, mas ele estava muito ressecado, então, ela juntou um pouco de água e colocou o disfarce dentro.
Depois foi até a esposa mais velha, deu-lhe uma cabeçada e a matou. Feito isso, ela tirou um dos seus dois chifres e foi até o campo. Quando o Caçador a viu chegando, soube que um pedaço de madeira tinha sido quebrada em sua casa. Quando ela quis dar uma marrada no marido, ele disse que ela não deveria fazer aquilo com ele.
Então, ela perguntou ao Caçador, como a primeira esposa tinha sabido sobre o mistério dela. O Caçador contou como o filho mais velho o levara e lhe dera muito vinho de palma para beber, até ele não saber mais o que falava. Então ela disse: “Está bem.” Disse que não o mataria, mas que ele fosse para casa e que sempre que os filhos dela quisessem realizar seu festival anual, ele deveria sacrificar com eles para o chifre que ela tirara e tinha deixado em casa como uma lembrança.
Daquele tempo em diante, seus filhos continuaram a sacrificar para os chifres desta maneira, são o que chamamos e cumprimentamos como os “filhos do Búfalo” até hoje.
No Terreiro de Òsùmàrè, até hoje é entoada uma cantiga que alude a passagem supra narrada, na qual Yánsàn sobe no telhado em busca da sua roupa, que havia sido escondida pelo seu marido.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto: Casa do Òsùmàrè


Àjàlá Mopin – O modelador de Orí




Afùwàpé, aquele que soube escolher o melhor Orí
Orí é a cabeça que norteia todos os seres-humanos e “Apéré” é seu suporte, por essa razão, sempre que louvamos Orí, evocamos também o seu suporte “Orí Apéré-oooooo!”, bem como o Orí Inú (encéfalo) “Orí Inú-oooo!” .
Acreditamos que “Àjàlá Mopin” é a Divindade à qual Olodúnmarè atribuiu a responsabilidade de “modelar” o Orí das pessoas. Muito embora Àjàlá seja habilidoso na “arte de moldar cabeças”, por vezes ele comete erros e então surgem os “Orí Buruku”, que são as “cabeças defeituosas”. Cremos que mesmo antes do nascimento, escolhemos nosso Orí, pedindo-lhe junto à Àjàlá Mopin. Essa “solicitação” é denominada “Àkúnlèyàn”, nesse momento o indivíduo “acorda” a sua permanência no Àyé, dentre outros aspectos de sua vontade. Isto posto, Àjàlá Mopin dá a pessoa aquilo que os yorùbás chamam de “Akúnlègbà”, que é na verdade uma espécie de “mola propulsora” para que os “desejos acordados” sejam realizados. Por fim, Àjàlá Mopin, concede “Àyànmò” que é a parte do destino que mesmo através da mediação dos Òrìsàs não será jamais alterada. Ou seja, “Àkúnlèyàn” e “Akúnlègbà” podem sofrer alterações ao longo da vida. Essas alterações são possibilitadas por meios de oferendas, as quais são vislumbradas através do oráculo ou pela “fala” dos Òrìsàs, entretanto, aquilo que fora determinado em “Àyànmò” jamais sofrerá mudanças.
A afirmação de que nós mesmos escolhemos nosso Orí é fundamentada através de um Itán, publicado por Abimbola, o qual diz que Ifá foi consultado para “Orísèékú”, “Orílèémèrè” e “Afùwàpé”. Quando eles foram escolher seus respectivos Orí junto à Àjàlá Mopin, o grande moldador de cabeças, Ifá determinou que eles fizessem sacrifícios de modo que escolhessem um bom Orí para o seus destinos. Orísèékú e Orílèémèrè ignoraram a recomendação de Ifá e, somente Afùwàpé fez o que lhe fora designado. Como consequência, Afùwàpé teve muita sorte e prosperidade em sua vida, haja vista que, graças aos sacrifícios realizados, ele escolheu o “Orí certo” (Orí Réré). No entanto, Orísèékú e Orílèémèrè, que não seguiram a determinação de Ifá não tiveram a mesma sorte.
Abaixo, transcrevemos uma variante do Itán de Ifá, respeitante a saga de Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé rumo à Terra.
“Ifá foi consultado para Orísèékú, o filho de Ògún, para Orílèémèrè, o filho de Ìjá e para Afùwàpé, o filho de Òrúnmìlà, no dia que eles iam para a casa de Olódúnmarè escolher suas cabeças. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé eram amigos, um dia eles se reuniram e decidiram que iriam para a Terra e lá, eles se estabeleceriam e seriam prósperos, sendo que, para eles, a Terra seria um lugar melhor do que o céu.
Eles pediram conselho aos Àgbàlágbà (anciões), que disseram que antes deles viajar, eles deveriam ir até Àjàlá escolher suas cabeças. Eles foram advertidos assim: “quando vocês forem, vocês não devem virar à direita, e nem ir diretamente para a casa de Àjàlá, até mesmo se um de vocês ouvir a voz do pai, vocês não devem ir diretamente para a casa de Àjàlá”. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé, prometeram aos Àgbàlágbà que atenderiam as advertências. Depois de caminhar por muito tempo, eles encontraram Afabéré-Gúnyán (“aquele que bate inhames com uma agulha pequena”). Eles disseram: “Pai, nós o saudamos”! O pai respondeu: “obrigado”! Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé questionaram como chegar até a casa de Àjàlá. Afabéré-Gúnyán disse que eles tinham que terminar de bater o inhame dele primeiro, depois ele mostraria como chegar até lá. Afùwàpé levou a agulha dele e começou a bater os inhames com isto, durante três dias. Quando ele terminou de bater, Afabéré-Gúnyán disse que eles podiam ir, que depois de caminhar mais um pouco, eles deveriam virar à direita, onde encontrariam o Oníbodè (guardião). Eles deveriam perguntar ao Oníbodè como chegar até a casa de Àjàlá.
Depois de caminharem por algum tempo, eles chegaram, Orísèékú, o filho de Ògún, ficou imóvel, ele ouviu a voz do pai dele, solicitando-o para guerra. Então, Orísèékú pegou suas armas para ajudar seu pai. Orílèémèrè e Afùwàpé o advertiram, dizendo que eles não deveriam ouvir nem mesmo aos seus pais, conforme orientação dos Àgbàlágbà. Eles então, continuaram sua viajem até a casa de Àjàlá. Após terem caminhado por um longo período, eles ouviram Òrúnmìlà, que golpeava o Opon Ifá com seu Iroke, fazendo um grande barulho. Afùwàpé, seu filho, ficou imóvel. Então, os outros dois companheiros exigiram que ele não parasse. Afùwàpé disse que ele não iria até ver o pai dele. Eles o fizeram lembrar da advertência, mas Afùwàpé, recusou abruptamente, insistindo que ele tinha que ver seu pai. Afùwàpé foi até Òrúnmìlà, enquanto Orísèékú e Orílèémèrè prosseguiram a viajem. Quando Òrúnmìlà viu Afùwàpé, ele lhe perguntou aonde ia. Afùwàpé disse que ele ia para a Terra. Òrúnmìlà, então, foi consultar o oráculo para o filho. O destino que se apresentou foi Ogbèyónú. O Oráculo disse: “Òrúnmìlà, seu filho vai fazer uma viagem para a Terra, para ele escolher uma cabeça boa, ele deverá fazer sacrifícios”. O que ele deve sacrificar, questionou Òrúnmìlà. “Ele deve oferecer duas bolsas de sal e doze mil búzios”. Òrúnmìlà ofereceu todos os materiais e o sacrifício foi realizado. As duas bolsas de sal e os doze mil búzios foram dados a Afùwàpé. Eles falaram que Afùwàpé procedesse na viagem. Quando Afùwàpé saiu da casa de Òrúnmìlà, ele nem não viu Orísèékú nem Orílèémèrè, eles já tinham ido embora.
Quando Orísèékú e Orílèémèrè alcançaram o Oníbodè, perguntaram-lhe como chegar à casa de Àjàlá. O Oníbodè disse que a casa de Àjàlá era muito longe, senão fosse por isso, ele os levaria até lá. Eles ficaram com muita raiva e perguntaram para outras pessoas, até conseguirem chegar à casa de Àjàlá. Quando lá chegaram, eles não o encontraram e esperaram por dois dias, como Àjàlá não retornou, eles resolveram falar com as pessoas que moravam lá. Disseram que eles haviam vindo escolher suas cabeças, sendo que estavam indo para a Terra. As pessoas da casa mostram-lhes muitas cabeças disponíveis na “loja de Àjàlá”. Quando Orísèékú entrou, ele escolheu uma cabeça feita recentemente que ainda não havia sido “levada ao forno”. Quando Orílèémèrè entrou, ele escolheu, sem perceber, uma cabeça defeituosa. Orísèékú e Orílèémèrè vestiram suas cabeças de barro e foram rumo à Terra. Restando poucos dias para chegarem, uma forte chuva caiu sobre Orísèékú e Orílèémèrè, essa chuva perdurou por muito tempo e as cabeças deles, começaram a se desfazer, ficando apenas um pequeno plano e assim eles chegaram. Na Terra, eles trabalharam muito, no entanto, eles perdiam tudo o que ganhavam e esse cenário se manteve por uns dez anos, sem qualquer sinal de melhora. Eles resolveram, então, consultar Ifá que através do oráculo disse que tudo que estava acontecendo, era em função das cabeças ruins que eles haviam escolhido e perguntou: “Quando vocês estavam vindo para Terra, vocês foram atingidos pela chuva?” Eles responderam: Sim, nós fomos! Ifá disse: “Quando vocês estavam vindo para Terra, vocês escolheram cabeças ruins! Vocês escolheram cabeças que ainda não haviam sido levadas ao forno. Vocês foram atingidos pela chuva e as cabeças ruins que vocês escolheram, ficaram danificadas, em pedaços, por isso, tudo o que vocês ganham, vocês perdem, sendo que tudo o que vocês conseguirem, será para restabelecer a forma de suas cabeças”…
Afùwàpé também continuou sua viagem à Terra, depois de ter caminhado por algum tempo, ele chegou até o Oníbodè e lhe perguntou como fazer para chegar à casa de Àjàlá. O Oníbodè disse que lhe mostraria depois, primeiro, ele iria preparar sua comida. Assim, Afùwàpé se sentou e pacientemente ajudou o Oníbodè. Quando Afùwàpé estava ajudando acender o fogo, ele notou que o Oníbodè estava colocando cinzas na sopa. Ele disse: “você está colocando cinzas na sopa”. O Oníbodè disse que isso era o que ele sempre comeu. Afùwàpé colocou na sopa, um pouco do sal, que havia trazido consigo e pediu que o Oníbodè provasse aquilo. O Oníbodè ficou impressionado com o gosto e, implorou mais daquela iguaria à Afùwàpé, que concordou, dando-lhe as duas bolsas de sal. Quando eles terminaram de preparar a sopa, Oníbodè se levantou, conduzindo Afùwàpé até a casa de Àjàlá. Quando estavam chegando, eles ouviram alguém gritar. Oníbodè disse que aquele barulho vinha da casa de Àjàlá e que ele não estava em casa, sendo que aquele barulho era provocado por um credor à sua procura e, sempre que o credor aparecia, Àjàlá se escondia.
O Oníbodè disse à Afùwàpé que se ele tivesse dinheiro, ele deveria ajudar Àjàlá a pagar suas dívidas. Quando Afùwàpé chegou à casa de Àjàlá, ele achou o credor gritando, relinchando como um cavalo. Afùwàpé indagou quanto Àjàlá lhe devia. O credor disse que eram doze mil búzios (nesse aspecto, cabe lembrar que àquela época, os búzios eram moedas correntes). Afùwàpé pegou os doze mil búzios, que havia trazido consigo, e pagou o credor de Àjàlá, quitando toda a sua dívida. Quando o credor foi embora, Àjàlá saltou do teto, onde havia se escondido e, cumprimentou Afùwàpé. Ele perguntou se Afùwàpé achou alguém na casa. Afùwàpé disse: “Sim, achei! Essa pessoa disse que você lhe devia doze mil búzios, então, eu paguei toda a sua dívida”. Àjàlá, muito contente, agradeceu Afùwàpé e lhe perguntou o que ele vinha fazer em sua casa. Afùwàpé disse que ele tinha vindo escolher uma cabeça, pois estava à caminho da Terra. Àjàlá pediu-lhe que viesse depois de certo tempo. Passado o tempo pedido por Àjàlá, Afùwàpé retornou e foi escolher sua cabeça. Àjàlá lançou uma vara férrea em muitas cabeças e todas ficavam em pedaços. “Está vendo Afùwàpé, essas cabeças não são boas”! Após muitas cabeças em pedaços, Afùwàpé escolheu uma. Quando Àjàlá lançou a vara de ferro, a cabeça deu um salto, caiu no chão e ficou rodando sem se desfazer. Àjàlá disse que aquela sim era uma boa cabeça e deu à Afùwàpé, que a fixou, dirigindo-se rumo à Terra.
Quando Afùwàpé estava chegando na Terra, uma forte chuva caiu sobre sua cabeça, a chuva era tão forte e intensa que Afùwàpé quase ficou surto, no entanto, sua cabeça permanecia firme, igual quando havia sido retirada da casa de Àjàlá. Ao chegar na Terra, Afùwàpé começou a comerciar, ele fez bastante lucro, ele construiu uma casa e enfeitou sua porta. Ele teve muitas esposas, ele teve muitos filhos. Depois de algum tempo, ele recebeu o honroso título de Orísanmí. Orísèékú, o filho de Ògún e Orílèémèrè, o filho de Ìjá, lamentaram-se à Afùwàpé. “Onde você escolheu sua cabeça? Porque não nos falou onde escolheria sua cabeça?”. Afùwàpé, por sua vez, disse que eles haviam escolhido suas cabeças, todos em um mesmo lugar, o que os diferenciavam era, o destino”.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto: Casa do Òsùmàrè – BA

Olúgbàje




O Preconceito Velado – Olúgbàje, Você Aceita a Comida do Dono da Terra?
Em continuidade as postagens da Série “O Preconceito Velado”, abordaremos hoje um pouco sobre uma das mais importantes cerimônias do Candomblé, o Olugbajé. Esse tema mostra-se bastante oportuno, sendo que esse ritual na grande maioria dos Terreiros de Candomblé ocorre no mês de agosto, que se inicia essa semana.
Bom, antes de tudo vamos entender um pouco sobre o significado da palavra que dá nome ao ritual. A palavra Olúgbàje, por si só, já explica o grande objetivo dessa cerimônia: “Olú” (Senhor/Chefe) – “Gbà” (Aceitar/Receber) – “Je” (Comer/Comida), ou seja, “Aceite/Receba e Coma a Comida do Senhor/Chefe”. Nesse caso, o substantivo “Olú – Senhor” alude a um dos nomes do grande Òrìsà da Terra, Obaluwaiye, também chamado de Oluwaiye, que é o Deus homenageado nessa cerimônia.
É uma festa cheia de mistérios e liturgia, na qual, as comidas de Obaluwaiye depois de abençoadas, são distribuídas em folhas aos presentes. Aqui em Salvador, essa é uma festa muito esperada pela população das Comunidades do Candomblé, sendo que todos querem apreciar a comida desse querido e importante Òrìsà, pedindo, sobretudo, proteção contra os males que acometem a saúde. Essa cultura é tão forte, que muitos Omo Òrìsà vão a diversos Olúgbàje, só para comer a abençoada comida de Obaluwaiye.
No entanto, muito provavelmente pela falta do conhecimento acerca da cerimônia, há pessoas que, ao invés de comer, passam a chamada “folha” no corpo, como se fosse um Ebó, depositando-a no balaio, sem provar sequer uma das deliciosas comidas do Rei da Terra. Isso não pode ser feito, pois é uma recusa à oferta de Obaluwaiye.
Dessa forma, devemos aceitar a comida e comungar em regozijo, pedindo proteção ao Grande Òrìsà dono da Terra e harmonia em nossas casas. As comidas do Olúgbàje são especiais, feitas com carinho, amor, dedicação e devoção. São, principalmente, abençoadas pelo Òrìsà, razão pela qual não podem ser descartadas.
Nesse mês de agosto, não tenha medo, não perca a oportunidade de provar as comidas abençoadas por Obaluwaiye, visite um Terreiro e aprecie com devoção a comida do Olúgbàje.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto da casa de Òsùmàrè

Obrigação de 7 anos Outorga à Prática do Sacerdócio?



As interpretações errôneas sobre os costumes do Candomblé…
Na última década houve um exacerbado aumento de Sacerdotes no Candomblé, sobretudo, aqueles que se tornaram Ìyálòrìsàs/Babalòrìsàs, imediatamente após terem concluído sua obrigação de sete anos. Mas será que somente a obrigação de sete anos outorga a um iniciado o direito ao sacerdócio? A resposta é não, vejamos por que.
Criou-se nos últimos tempos, o indevido paradigma de que ao completar a obrigação de sete anos, o iniciado poderá instaurar o exercício do sacerdócio. Fato é que o sacerdote não nasce quando do término da sua obrigação de sete anos, mas muito antes, quando do seu nascimento. Na rica e bela cultura dos Òrìsàs, acreditamos que trazemos para o Aye (terra), a missão de nossas vidas acordada ainda no Orùn (céu). Em linhas gerais, isso quer dizer que a pessoa traz a missão de se tornar um sacerdote já no seu nascimento, isso está cravado irreversivelmente no seu destino, eles são os Omo Bibi (os bem nascidos).
Dessa forma, as pessoas que são “consagradas sacerdotes”, somente por terem completado o ciclo de sete anos, mas que não traz impresso no seu destino essa missão, poderá causar sério prejuízo a si mesmo e, principalmente aos seus seguidores.
Um Sacerdote de Òrìsà, além de obviamente zelar pela Divindade, zela pelos filhos dessas Divindades, ou seja, o sacerdote cuida de pessoas. É muito importante destacar esse ponto: “O Sacerdote cuida de Òrìsàs, de Pessoas. Ele cuida de Cabeças”. Nesse sentido, vale salientar que a obrigação de sete anos é um passo muito importante na vida de qualquer Omo Òrìsà e condição sine qua non para um futuro sacerdote, mas não é a obrigação de sete anos que tornará um Omo Òrìsà em sacerdote. Isso deve ser claro a todos.
Mas se não é a obrigação de sete anos que outorga o sacerdócio a um iniciado o que é então? Como dito acima, isso está impresso na memória ancestral daquele indivíduo, ele traz consigo essa missão do Orùn, que será revelada por meio do oráculo ou por voz pessoal do Òrìsà. Em uma primeira leitura, isso pode parecer utópico, no entanto, vamos lembrar a consagração sacerdotal de alguns dos mais importantes nomes do Candomblé.
A reverenciada Ìyálòrìsà do Opo Afonjá, Mãe Senhora de Òsun, recebera a navalha que fora de sua avó Ìyá Oba Tosí, ainda na sua iniciação, sendo que sua Ìyálòrìsà Mãe Aninha, anteviu que ela seria uma sacerdotisa. A querida Ìyálòrìsà do Gantois, Mãe Menininha, foi consagrada Ìyálòrìsà pelos Deuses, que a escolherem e a sentaram no trono do Ile Iya Omi Ase Iyamase, sem a interferência humana. Na nossa casa, o Terreiro de Òsùmàrè, nosso amado Pai Pecê, foi indicado como futuro Babalòrìsà logo no seu nascimento, sendo carregado no barracão pelo Òrìsà Ògún de sua Avó, a inesquecível Mãe Simplícia.
Não queremos em momento algum, dizer que a consagração dos sacerdotes deve ocorrer nos parâmetros mencionados, mas queremos sim dizer que é necessária uma consulta muito acurada ao jogo de búzios, questionando aos Òrìsàs se aquela pessoa realmente deverá ser consagrada sacerdote. É preciso saber se aquela pessoa realmente foi escolhida pelos Òrìsàs para ser um Babalòrìsà ou Ìyalòrìsà, isso é algo muito sério.
Aqui em Salvador, por exemplo, há muitos Egbon (Omo Òrìsà com suas obrigações de 7 anos completadas, mas não consagrados sacerdotes). Esses Egbon, antiguíssimos e de conhecimento requintado da Religião dos Òrìsàs não se tornaram Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs por um único motivo, a saber: Não carregam nos seus destinos essa missão. Esses antigos são felizes por serem Egbon, são felizes por zelar pelos Òrìsàs na casa onde foram iniciados. São felizes por serem consultados pelos mais novos, sobre as histórias do povo antigo. São felizes por dizer: “Eu sou egbon da Casa A ou B”.
Quando questionados por muitos a razão de não serem Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs, eles imediatamente respondem: “Oh meu filho, eu não nasci com essa missão não, minha missão é ajudar a casa onde eu me iniciei”. Alguns inconformados reiteram: “Mas com tanto saber, você tinha que ser sacerdote”. Esses antigos Egbon, por sua vez, no elevado grau de sabedoria, acumulada ao longo de anos, finalizam a conversa dizendo: “Oh meu filho, saber é o de menos, é preciso nascer para ser”…
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Fonte: https://www.facebook.com/casadeoxumare

O Vodun Legbá e a classificação do panteão Vodun

O Culto de Legbá

Legbá (Lεgbà, em fongbé) é um Vodun muito importante, tanto no Benin como na diáspora, por ser aquele que tem como atributos ser o protetor e o mensageiro entre os homens e os Voduns. Cultuado pela totalidade das Casas de Jeji no Brasil (exceto na Casa das Minas “Kwlegbetan Zomadonu”)  e em todos osHùnkpámè (conventos de Vodun) do Benin, este Vodun é louvado e oferendado no ritual do Zandró. No Brasil não é feito e nem entra em transe, não tendovodunsì. No Benin há vodunsì dedicadas a estes voduns, recebendo a denominação de legbásì.
Legbá é o correspondente Jeji do orixá Exu dos yorubás. É o filho mais jovem do par Mawu-Lisá ou Dadá-Segbo. Seu assentamento é um montículo de barro com um falo ereto, representação de sua relação com a sexualidade masculina, e com dois chifres. Possui ligações com Ayizan Xorokwe.
Legbá sempre é cultuado primeiro, do que qualquer Vodun, esta regra jamais é esquecida pelo povo Fon, pois é ele que se encarrega de deixar passar qualquer tipo de oferenda seja a que Vodun for. Mesmo nos casos de descarrego e outros tipos de interversão espiritual praticada seja por qualquer sacerdote e de qualquer culto espiritual (vale ressaltar, porém, que no Brasil, em rituais como o Zàndró, a primeira divindade reverenciada é Ayizan). Está encarregado em vigiar o bom andamento e atitudes do ser humano, seja benéficas ou maléficas e se incumbirá das devidas cobranças.
Também deve-se citar que Legbá, é o unico Vodun masculino que tem acesso ao mundo espiritual das Kenesi (senhoras poderosas e grande Mãe Ancestre, feiticeiras, podendo ser consideradas como correspondentes às Iyami da tradição yorubá).
A reverência a Legbá no jeji mahi se dá no zandró, onde pedimos a ele que se mantenha atento, e para que leve nossa mensagem aos demais voduns. O ritual do padé ou ipadé é nagô, não pertencendo à tradição jeji e nem é próprio para se louvar Legbá.
O dia dedicado à Legbá é a segunda-feira, juntamente com Xorokwé, Ogun, a família de
Sakpatá 
e Ayizan. Sua cor é o vermelho, o multicolorido e o transparente
Na tradição africana, pode-se encontar também várias formas de Legbá:
*Agbonuxosu – rei do portal, é um pequeno Legbá feito de argila, situado no portão.
*Axi-Legbá – é o Legba dos caminhos.
*Tó-Legbá – é o Legba de uma cidade, ou de uma aldeia.
*Fá-Legbá - protege o Fá, perto do qual ele reside, estando a frente de Fá. É o Legbá do oráculo, que traz a mensagem no jogo.

A classificação do panteão Vodun

Legbá, por ser aquele que “a tudo está ligado”, tem ligações com todos os voduns, sendo o wensagún (mensageiro) entre eles. Na tradição africana podemos encontrar vários grupos ou clãs de voduns, sendo Legbá pertencente a todos estes clãs.
Há os Voduns da terra encabeçados por Sakpatá, conhecidos também como Ayi-voduns, e há os voduns do alto ou do céu encabeçados por Heviosò ou Xebyosò, e Mäwü-Lisà conhecidos também como Ji-voduns. Destes dois grandes grupos pode-se fazer outras sub-divisões, e ainda existem outras divisões a parte, assim temos:
* Os sò-voduns (voduns do raio), liderados pelo Vodun Heviosò/Sògbó;
* Os tò-voduns (voduns das águas), liderados pelo Vodun Xú;
* Os zùn-voduns (voduns das florestas), a exemplo de Aziza e Agè (Agué);
* Os  Atinmɛ̀-voduns (voduns do interior das árvores), a exemplo de Lökö e Zonodo ou Azawonodo;
* Os tó-voduns (voduns de uma determinada aldeia, povo ou reino);
* Os Hε̆nnù-voduns (voduns de uma determinada família ou clã), cada um liderado pelo seu Hε̆nnùgán (patriarca);
* Os jono-voduns (voduns estrangeiros), a exemplo dos anagonus (Oxun, Yemanjá, Ogun, Oyá (ou Avesan em Abomey), Odé, etc).
No Brasil, porém, podemos nos deter a três divisões básicas se tratando do jeji mahi:
Dan ou Família da Serpente, incluindo todos os voduns serpentes e que são liderados por Dangbè ou Gbèsén;
* Heviosò/Kaviono ou Família do Trovão, que inclui todos os ji-voduns, sò-voduns e tò-voduns e que são liderados pelo vodun Sògbó.
Sakpatá ou Família da Terra, que inclui todos os ayi-voduns e azon-voduns (voduns doentes) e os jono-voduns e que são liderados pelo vodun Azonsú ou Azansú.
Legbá, igualmente no Brasil, está ligado a estas três grandes famílias. Legbá conhece tudo e sabe falar todas as línguas.
Legbá protege e defende!
Un j’avalu hùn Legbá!
Autoria: Hùngbónò Charles

Por que Enfeitamos a Árvore de Iroko?



Por que Enfeitamos a Árvore de Iroko?
Já falamos sobre a roupa que veste Ògún, o Màrìwò. Hoje, vamos falar um pouco sobre a importante Árvore de Ìróko, na qual habita o Òrìsà do mesmo nome. É também, uma pequena homenagem a célebre Egbon Cidália de Iroko, que faleceu esse ano, e que teve um papel de importância singular para o Candomblé do Brasil.
Muitas pessoas que vão às festas de Iroko, observam com atenção os enfeites colocados nessa misteriosa árvore. Muitos acreditam que os enfeites são colocados para deixar a árvore mais bonita em suas festividades, mas a verdade é que, como tudo que há no Candomblé, os enfeites de Iroko não são colocados ao acaso.
Uma antiga história africana, conta que existia uma mulher chamada Oloronbi que não conseguia ter filhos. Ela sempre que passava diante de uma gigantesca árvore de Iroko dizia: “Oh Meu Pai, eu sou muito solitária, se o senhor me der um filho ou uma filha para eu não ficar mais sozinha nesse mundo, eu lhe darei uma cabra e azeite de dendê”.
Sempre que Oloronbi passava diante de Iroko ela repetia sua súplica. Iroko comovido com o sofrimento de Oloronbi, fez com que ele engravidasse. Oloronbi ficou muito feliz ao saber que estava grávida, mas esqueceu-se da promessa que havia feito a Iroko. Quando seu filho nasceu, ela todos os dias passava diante da árvore sagrada, sem sequer reverenciá-la. Iroko muito triste com o descaso de Oloronbi, resolveu tomar para si aquela criança, sendo que foi ele o responsável por ela ter engravidado. Desta forma, num dia em que Oloronbi parou diante da árvore de Iroko, à noite, para conversar, Iroko sem que ela percebesse chamou a criança para dentro do seu gigantesco tronco, cuidando dela.
Oloronbi ficou desesperada, pois não sabia o que havia acontecido com sua criança, procurando um Sacerdote de Orisa, para saber o que tinha acontecido. O sacerdote consultou o Deus da Adivinhação e disse que a criança de Oloronbi estava no tronco de Iroko, pois ela não realizou aquilo que havia prometido. O Sacerdote disse que ela mandasse fazer alguns bonecos e bonecas de madeira, como se fossem seus filhos e que, novamente parasse diante de árvore de Iroko, comentando que estava muito feliz por ter outros filhos e que, no momento em que Iroko fosse pegar os bonecos, ela teria a oportunidade de pegar sua criança e que no outro dia, fosse novamente diante da Árvore oferecer a cabra e o azeite que havia prometido, pedindo perdão a Iroko.
Oloronbi fez o que o sacerdote havia recomendado, resgatando sua criança. No outro dia, Oloronbi ofertou a cabra e o azeite, enfeitando á arvore com os brinquedos, para que todos soubessem que se ela tinha conseguido uma criança, era pelas graças de Iroko.
Essa história mostra-nos duas coisas importantes, a primeira é que jamais devemos esquecer de nossas promessas e, a segunda é que jamais podemos ficar diante de Iroko a noite.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto da Casa do Òsùmàrè

Conceitos de Iwá Pèlé – O bom caráter



Parte  2.
Ifá é uma disciplina espiritual enraizada na idéia de que o desenvolvimento de Iwá Pèlé ou Bom Caráter é a chave para entender o destino.
Há um provérbio iorubá que diz:
Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó.
Este provérbio traduzido aproximadamente significa:
Destino é bom caráter, bom caráter é destino.
É a partir da referência mítica que se diz:
“… quando o destino é incerto, é o bom caráter que eu escolherei.”
A ingerência metafísica aqui é clara, se você está incerto sobre o seu destino simplesmente faça a coisa certa naquele momento.
Nascemos ómó rere, que significa: boas pessoas e bem-aventuradas.
O que sugere que fazendo a coisa certa no momento certo não poderemos estar em oposição ao nosso destino.
A língua litúrgica Iorubá é freqüentemente criada através do uso de elisões.
Uma elisão é uma sentença encurtada em língua iorubá para formar uma palavra.
Por exemplo, a palavra Ifáyabale é uma referência em Ifá ao ritual de resolução de disputas.
A palavra é Ifáyabale, elisão Ìyá bàbá ilé.
Significando:
A sabedoria das mães e pais da terra.
Isto é tanto uma referência ao processo ritual como uma indicação clara da metodologia da resolução dos problemas.
É com a orientação dos mais velhos que nós resolvemos nossos conflitos.
Vamos usar a metodologia de análise da linguagem para termos outro olhar para a frase:
Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó.
Da elisão:
Ayanmó ni Iwá ope ile  Iwá ope ni ayanmó.
Temos a tradução do destino inicial sugerindo que o bom caráter é o nosso destino e nós temos uma camada mais profunda que significa olharmos para as palavras originais que formam as elisões da sentença.
A tradução torna-se então a árvore ancestral.
É o caminho para saudar a terra, saudamos a terra através da árvore ancestral.
Quando olhamos para a fonte das elisões começamos a entender o contexto desta cultura que leva à criação de palavras e frases usadas para expressar idéias espirituais.
A árvore Ayan é usada na cultura iorubá tradicional como um altar ancestral.
A idéia de uma árvore sendo usada como um altar ancestral é baseado no símbolo da árvore da vida, o que significa que vem das raízes, nos torna o motor que da a luz e as mudas.
Uma árvore é uma manifestação viva dos ciclos de: vida (Ogbè méjì), morte (Òyèkú méjì), transformação (Ìwòrì méjì) e renascimento (Òdí méjì).
Ayan está servindo como um lar para centenas de grandes e antigas espécies de animais que vivem em harmonia em um espaço muito pequeno.
Esta harmonia cria o ventre do igbodu (cabaça da existência) que é o significado da floresta. Um igbodu é um portal inter-dimensional que liga o Òrum ao Ayè ou o Céu a Terra. Esses portais criam flashes de luz ao redor da árvore que se parece com lâmpadas se acendendo. Estes flashes de luz são chamados de Espírito do Pássaro Éyèle, significado que o pássaro Éyèle é usado pelas mães mais velhas para se comunicar diretamente com os Imortais no Òrun. A árvore Ayan também é usada para fazer tambores bata que são usados ​​para se comunicar com Egun e alguns Ebora.
Egun é o espírito coletivo da linhagem ancestral de uma pessoa.  Eborá são ancestrais divinizados que funcionam como avatares das Forças da Natureza chamado geralmente de òrìsá. A árvore Ayan é o lugar onde o iorubá tradicional se comunica com seus ancestrais e da árvore Ayan é feito o tambor que é usado para invocar os estados alterados de consciência que melhoraram esta comunicação.
Então, o que o provérbio, Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó, está nos dizendo?
Ele está dizendo que devemos usar a sabedoria dos antepassados ​​para saudar a Terra. Aos nossos olhos pode nos parecer uma expressão estranha, especialmente no que se refere à idéia de Bom Caráter (Iwá Pèlé).
Na cultura iorubá tradicional você deve cumprimentar uma pessoa idosa. É o trabalho dos mais velhos que nos guiará no caminho do desenvolvimento espiritual. Dizemos que os anciãos guiam-nos para saudar a Terra e chamar a Terra de ancião e dar a entender que devemos viver em harmonia com a Terra, pois esta é a chave para o crescimento espiritual. Ifá está enraizado na idéia de atunwá (reencarnação).  A crença da cultura iorubá tradicional é a de que estamos renascendo dentro de nossa linhagem biológica e que o nosso nascimento traz consigo a responsabilidade moral de corrigir o que está quebrado na história de nossa família.  Para que essa evolução espiritual ocorra os seres humanos precisam de um lugar para viver a experiência com atunwá e o lugar que escolhemos é chamado Onilé ou Terra.  Se Onilé morre a experiência com atunwá morre com ele. Isso significa que nossa primeira obrigação espiritual e disciplinar é desenvolver o Bom Caráter e cuidar da Terra. Em termos simples, nós temos a obrigação moral de deixar a Terra como um lugar melhor de se viver. A Terra é a plataforma através da qual nós escolhemos para abraçar o processo de crescimento espiritual. Na minha humilde opinião os humanos não estão fazendo um trabalho tão bom em deixar a Terra em melhor forma do que a encontramos.
Ifá pode consertar um mundo quebrado.
Esta frase faz parte das escrituras sagradas,..
Eu acredito que seja verdade.
Oração coletiva é entendida na cultura iorubá tradicional como a capacidade de abrir portais na Terra. Esses portais são chamados ventre do igbodu, que significa ‘a floresta’. Para uma cultura que define o Bom Caráter por meio da elisão Iwá Pèlé, a idéia de portais abertos por meio do uso da oração não é difícil de entender. Recentemente eu terminei uma questão sobre a visão de uma cidade americana.  Esta área foi utilizada por antigas culturas indígenas nos Estados Unidos como um centro de ritual e centro de treinamento para o sacerdócio. O canyon contém kivas numerosas. A kiva é um círculo de pedras enterradas no solo e utilizadas para realizar o ritual. Os kivas em Chaco Canyon são o seu igbodu. Eles são portais para os reinos invisíveis da Criação que Ifá chama de Òrum. Fui abençoado em Chaco Canyon ao receber instruções sobre a Terra. No mesmo momento em que eu recebi uma mensagem no Canyon uma tempestade de vento soprou e se abriram as portas da minha casa que ficava a 600 milhas de distância. Cada vez que eu piso em uma kiva sou imediatamente saudado com uma visão nova e diferente.
Era uma espécie de mudar os canais na TV. Consciência? Talvez.
Eu prefiro acreditar que quando chegamos para saudar a Terra, a Terra irá responder, dando-nos orientação.
Isso é o que fazem os anciãos, pois a Terra é a Mãe de todos.  Vivemos em um universo holográfico. Isso significa que sempre haverá manifestação da Criação, isto está contido dentro de cada átomo da Criação.  As informações que precisamos para corrigir o que está quebrado estão ao nosso redor e em toda parte.  A pergunta é:
Como podemos acessar essa informação?
Temos acesso à informação para a saudação da Terra, significando, sabermos humildemente usar a sabedoria dos antepassados ​​para nos ensinar como nos comunicar com Ayan, a árvore da sabedoria ancestral.
Esta idéia foi muito bem expressa no filme Avatar quando a árvore, no centro da comunidade indígena, reunia os recursos do planeta para defender-se contra uma invasão militar. Sim, eu sei que era um filme, porém está enraizado na verdade.
Ire o.
Por: Áwo Fatunmbi

Porque jogamos Água à rua.



Porque Jogamos Água à Rua?
A misteriosa Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz nada sem água, ela que umidifica, resfria e fertiliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe, ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não existiríamos.
Há muitos momentos em que despachamos a porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um momento adverso em sua vida no Aye.
Em suma, em todos esses momentos, o objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia. Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que, sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos.
Ao entrar na Casa de Candomblé, por exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira, reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do convívio no Terreiro de Asè.
Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a terra antes de caminhar sobre ela.
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
Texto da Casa de Oxumarê-BA

Nã Agotimé: A Saga de uma Rainha



A saga de Nã Agotimé é pura magia. Representa a força dos elementos naturais transformando a vida que se transforma em culto.
Desde tempos imemoriais se cultuava os voduns da família real do Daomé, hoje Benim. Um Clã mágico e místico iluminava o continente negro, numa época de uma África conturbada por guerras tribais em busca do poder. Muitos reis passaram e o Daomé, que era apenas uma cidade, tornou-se um país.
No palácio Dãxome, reinava Agongolo. O rei tinha como segunda esposa a rainha Agotimé e dois filhos (Adandozan, do primeiro casamento, e Gezo, nascido de Agotimé). No momento de sua morte, o rei elegeu seu segundo filho para sucedê-lo no trono, mas a sua ordem foi desconsiderada e Adandozan assumiu o trono como tutor de Gezo. Abomey tornou-se vítima de um governo tirânico e cruel.
Mágica e Magia. A rainha era conhecida em seu reino pelas histórias que contava sobre seus ancestrais e sobre o culto aos reis mortos. Guardava os segredos do culto a Xelegbatá, a peste. Detentora de tais conhecimentos, o novo rei tratou de mantê-la isolada, acusando-a de feitiçaria, e não hesitou em vendê-la como escrava.
Em Uidá, grande porto de venda de escravos, Agotimé foi jogada nos porões imundos de um navio e trazida para o Brasil. O sofrimento físico da rainha, traída e humilhada, era uma realidade menor, pois o seu espírito continuava liberto e sobre as ondas a rainha liderou um grande cortejo, atravessando o mar.
Desse episódio se forjou um dos elos que une a África ao Brasil. Chegou ao novo continente um corpo escravo, mas um espírito livre, pronto para cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui o som dos tambores Jejes.
Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia, porto do seu destino e terra santa do conhecimento. Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao Brasil, Agotimé se deparou com muitos irmãos de cor, mas não de credo.
No seu encontro com os Nagôs teve o seu primeiro contato com os Orixás, e através deles a Rainha escrava teve notícias de seu povo. Por eles soube que sua gente era chamada Negros-Minas e foram levados para São Luís do Maranhão. Contaram que não tinham local para celebrar o seu culto, pois esperavam um sinal de seus ancestrais. Agotimé logo entendeu por quem esperavam.
Dessa forma a rainha chegou ao Maranhão. Terra da encantaria e de forte representação popular. Os tambores afinados a fogo e tocados com alma por ogãs, inspirados por velhos espíritos africanos, ecoam por ocasião das festa e pela religião. Foi no Maranhão que Agotimé, trazida para o Brasil como escrava, voltou a ser Rainha. Sob orientação de seu vodum, fundou a “Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.
Para contar essa história, trilhando caminho inverso ao de Nã Agotimé, e com uma exposição fotográfica sob a forma de portraits, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos viajou ao Benin acompanhado do antropólogo africano Hippolyte Brice Sogbossi.
A proposta do Projeto é realizar uma pesquisa e documentação fotográfica da atual situação de terreiros e seus respectivos chefes no Benim e no Maranhão. Para tanto, foram entrevistados e fotografados personagens de reconhecida importância no cenário do culto aos voduns, com a finalidade de traçar um paralelo entre os Sacerdotes africanos e os Chefes de Terreiros do Tambor de Mina do Maranhão.
No Benin, num período de 25 dias, foram visitadas as cidades de Cotonou, Abomey, Allada, Ouidah, Calavi e Porto Novo. O Projeto “Zeladores de Voduns e outras Entidades do Benin ao Maranhão” foi aprovado no Edital de Apoio à Produção Cultural do ano de 2008 da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.
Márcio Vasconcelos é fotógrafo profissional independente e há mais de uma década vem se dedicando a registrar as manifestações da Cultura Popular e Religiosa dos afro-descendentes no Estado do Maranhão. Hippolyte Brice Sogbossi é beninense e radicado no Brasil há mais de 10 anos. Doutor em Antropologia Social e professor da Universidade Federal de Sergipe.
Grete Pflueger

Os Voduns da Casa das Minas

A Casa das Minas (Kwlegbetan Zomadonu ou Kwerebetan de Zomadonu) é um terreiro quase que bicentenário e que mantém firme as tradições religiosas africanas de culto aos Voduns, em especial àqueles que fazem parte dos cultos da Família Real. Os voduns da Casa são agrupados em família, destacando-se a família de Davice (Família Real) que engloba os voduns antigos reis e nobres, dignatários do antigo Dahomey. A ancestral mítica desta família é Nochê Naé (Sinhá Velha), a quem todos na Casa das Minas obedecem e prestam respeito, sendo que não se deve falar muito dela. Esta família segue duas ramificações: a primeira é de Zomadonu – vodun dono da Casa e vodun da fundadora e das três primeiras mães da Casa; e a segunda é a de Dadaxó (Dadarrô – pai do Dahomé). Outra importante família é a de Dambirá, dos Voduns da terra e das doenças, como Akosi, Azile e Azonce,e  seguindo as famílias hóspedes da casa Queviossô (dos voduns do trovão e dos astros, que são considerados nagôs dentre os jejes da casa, mesmo não sendo orixás, e que são mudos, a exemplo de Badé, Sogbo (que na Casa das Minas é um vodun feminino, sinretizada com Sta Bárbara e Oyá), Averekete, Lissá, Agbé), e as famílias de Savalunu (voduns de Savalu) e Alladanu (voduns de Alladá).
Legba não é cultuado na Casa das Minas e é tido como trapasseiro, um ser maligno. Duas explicações teria este motivo: o sincretismo extremo que caracteriza o Tambor de Mina, e o fato de Adandozan se dizer “um protegido de Legba” e que depois de toda suas atrocidades e maldades deixaram o povo Abomenu entristecidos e inclusive Nã Agotimé.
A Casa das Minas é exclusivamente de cultura Jeje, sendo seus cânticos em lingua fongbé-ewegbe, e suas divindades são exclusivamente Voduns, não havendo nenhum orixá em seu culto (embora devotem-se a Yemanjá, por exemplo, mas não há culto interno para estas divindades). A casa não gerou nenhuma filial, mas sua estruturação serviu de base para organização das outras Casas de Tambor de Mina.
Antigamente cultuavam-se na Casa das Minas, as “meninas” (Tobôssis) e que desapareceram nas décadas de 60 e 70. Segundo fontes o papel das Tobossis era harmonizar a Casa, dando nomes africanos às Vodunsìs e falavam em outra língua.
Autoria: Hùngbónò Charles



Ìwà Pèlè – Ómó sùúrù (O bom caráter é filho da paciência)


Parte 1
Ègbé,
Costumo sempre que possível perguntar aos abians e os mais novos o que eles sabem a respeito de nossa religião. O que realmente vieram colher, o que realmente irão cultuar e o que eles objetivam.
Para minha surpresa, ninguém conhece o cerne da questão.
Por que cultuamos òrìsá?
Qual a finalidade de tudo isto?
Onde fica o fim da estrada?
Pecado, absolvição, punição, Èsú, o que será que tudo isto quer dizer?
O que devemos fazer dentro de um Ilè àse?
Lavar, passar, cozinhar, arrumar, guardar, olhar, falar, fofocar, concertar, desentupir, capinar, varrer, ajudar, comer, aprender, osé, acender vela, rezar, òfò e etc…
Quem poderia levantar o braço e dizer que a canção mais importante, é a que você está compondo?
Sua canção tem que ser linda e ela não pode ser dividida e nem ter parceria, letra e musica devem ter inspiração própria, você tem compromissos seriíssimos com sua evolução
O sentido de caridade e ajuda ao semelhante é magnífico, porém, devemos olhar nossa estrada, devemos objetivar evoluir, devemos ascender, devemos buscar a superação.
Dentro deste conceito, se analisarmos friamente, o grupo será beneficiado, se há evolução pessoal dentro do grupo, então existe um objetivo a ser alcançado pelos demais. Devemos servir de inspiração e não ajudantes de entrega ou meros ajudantes de estiva, ajudar o outro a carregar um peso que ele se desobriga a carregar, visto que chegou um auxilio luxuoso. Neste caso, você.
O conceito de evolução espiritual está na base de nosso culto, é a atividade fim de nosso sacrificio, o objetivo maior do ser humano. E esta base chama-se caráter. Caráter é muito importante dentro desta cadeia espiritual, uma pessoa desprovida de caráter sempre terá obstáculos a ser ultrapassados, sua vida sempre terá um plus nos problemas, sempre ouviremos aquelas famosas frases:
Mas como?
Eu dei comida, dei até bicho de quatro pés calçado e nada aconteceu.
E começa a transferência de responsabilidades, a mão do Ogan é ruim, o sacerdote não tem àse, me disseram que não foi feito direito, pelo que eu sei ficou faltando algo, enfim…
Uma gama de subterfúgios para poder mascarar o erro individual, o desvio de caráter. Não podemos em hipótese alguma fugir de nossas responsabilidades, não estamos aqui para simplesmente vestir, bailar e ralar dentro de uma casa de àse.
Nossas atitudes dentro e fora contaram muito, não se embriagar, a não promiscuidade, os maus costumes, os desvios de conduta, a falta de cuidado com o que não lhe pertence e muito mais exemplos que não são necessários exemplificar aqui, pois o conceito de certo e errado nasce com você, ele nós é ofertado na hora do sopro divino de Òlódúmarè (Emi), sabemos muito bem onde está o fiel da balança e para que lado ela pende conforme nossas atitudes no dia-a-dia.
Dito isto, espero que fique menos confuso a forma de se relacionar com os objetivos de nossa religião. Orí é o ponto a ser alcançado e o caráter é a base para se conseguir atingir a meta.
Lembrem: Se o ebo não fez efeito é por que faltou “folha” e esta folha muitas vezes pode ser o nosso caráter.
Ire gbogbo.

COMPORTAMENTO DE INICIADOS E ABIAN


Creio que este assunto não se esgota facilmente. As relações intespetuosas entre filhos e sacerdotes dentro dos Ilè Àse precisam ser cada vez mais  lapidadas. Os tabus referentes a maus tratos (físico, oral e gesticular) contra sacerdote, ancião, pai e mãe desagradam os olhos de Òlódúmarè.
O assunto abordado abaixo pede uma reflexão, vivemos pedindo respeito pelo nosso culto/religião, será que estamos respeitando-os com devido peso, com a mesma reciprocidade.
Òrúnmìlá no Odù Òsá’Ìwòrì nos diz:
“Se eu lhe der tudo que você me pede, será que você irá se esforçar por si mesmo.”
Boa leitura.
  1. Cuide do seu santuário (se tiver algum) com sinceridade, humildade e limpeza. Não se aproxime de seus santuários se você foi beber fumar ou ter relações sexuais. E nunca venha de forma “impura”.
  2. Não faz sentido para mim se você usa ilekè e se veste como uma “stripper” ou “bandido”. Então, por favor, vista adequadamente se você estiver usando ilekè.
  3. Nunca finja ser algo que você não é. Se você recebeu um igbá e não passou por Igbodu (processo de iniciação), então você só tem um igbá de òrìsá. Você não é um sacerdote ou a sacerdotisa da divindade assentada.
  4. Se o seu pai diz que você precisa ter relações sexuais com ele para remover qualquer tabu ou para subir na vida, fuja dele. Ele é charlatão, uma fraude e etc.
  5. Se estiver participando de um sire òrìsá, por favor, se vista adequadamente. Minissaias, tops, shorts, não podem, usar calças compridas também não, ficar na frente dos atabaques é desrespeito ao Ilè e ao òrìsá.
  6. Ao cumprimentar um sacerdote ou sacerdotisa em público, é apropriado Kunle (reverência leve, dobrar joelhos) ou mesmo Dobale (ir ao chão) para eles. Eu sei que isto vai levantar as sobrancelhas, mas para fazer Foribale para alguém em público em um ambiente não espiritual é um sinal de arrogância.
  7. Como cumprimentar um santuário ou sacerdote depende do seu sacerdote. Eu já vi isso ser feito de forma diferente por pessoas daqui dos estados e do exterior (Nigéria e Daomé). Quando em dúvida, mostre o seu respeito.
  8. Nunca se deve fumar beber, usar drogas, ter relações sexuais, usar de palavrões enquanto se usa seu ileke (fio de contas). Estas são ferramentas sagradas que foram dadas a você e você deve tratá-las como tesouro.
  9. Se você não estiver satisfeito ou deseja sair da casa espiritual do seu sacerdote e o seu desejo é seguir em frente, de a devida notificação. Solicitamos que se possível, ofertar Adimu de partida (oferta) e seguir seu caminho em paz.
  10. Nunca use o que foi ensinado pelo seu sacerdote para fazer mal aos outros. Lembre-se a energia que você colocar para fora vai voltar para você. Se você enviar a negatividade, a negatividade vai voltar para você. Se você enviar amor e paz, o amor e a paz vão voltar para você.
  11. Nunca, jamais, doe seus igbás. (ouça seu sacerdote!). Um Igbá òrìsá deve nascer dentro do santuário, Igbá não nasce por osmose! Isto é um tabu, mas infelizmente e vergonhosamente muitos estão fazendo isso.
  12. “Compra de Igbá”, tem gente tentando acumular o maior número possível e isto não é bom, se você não tiver autorização através da adivinhação adequada de montar seus Igbás não o faça. Ter um Igbá Òrìsá é um trabalho árduo. Estes são representações do òrìsá e requer muito cuidado.
Lembre-se, não é sobre você (humano), nem sobre mim,  mas sobre Egúngún, irunmolè, òrìsá e Òlódúmarè!
Texto garimpado na net, caso você conheça o autor nos informe.

O PRECONCEITO VELADO – O IMPORTANTE É QUE O ORO JÁ ACONTECEU, A FESTA É SÓ FOLCLORE.
 

A partir de hoje, o Terreiro de Òsùmàrè inicia uma serie semanal de postagem, abordando alguns temas que revelam o preconceito e, muitas vezes, o desconhecimento acerca dos dogmas da nossa religião, partindo dos próprios adeptos. Dessa forma, esperamos contribuir para um melhor esclarecimento e construção de uma identidade forte, salvaguardado-nos das falas de adeptos desconhecedores do nosso credo religioso.

Quantas vezes não ouvimos a frase acima, dita de forma muito comum por muitos adeptos do Candomblé, não é verdade? No entanto, por trás dela, há dois importantíssimos erros. O primeiro é imaginar que qualquer fragmento dessa linda Religião que é o Candomblé seja folclore. O segundo, e talvez o mais lamentável, é crer que os Òrìsàs são peças de um teatro.

É fundamental frisar que o Orò realizado em honra aos Deuses Africanos, de fato é uma etapa de grandes realizações, sendo que estamos renovando os poderes de transformação (Asè). Contudo, não podemos, em momento algum, acreditar que a cerimônia pública é um ritual de menor importância, muito pelo contrário. As Festividades (Ajòdún) são momentos de grande confraternização, comunhão e, principalmente vitalizam o Asè. São nas cerimônias públicas que o Candomblé mostra o seu grande diferencial em relação às outras religiões, onde os nossos Deuses manifestados em seus filhos, presencialmente abençoam e festejam em regozijo.

São nas cerimônias públicas que ocorrem momentos célebres na vida de muitas pessoas, como a consagração pública de um Sacerdote. São nas cerimônias públicas que os Òrìsàs indicam um Ògán ou uma Ekeji, que a partir daquele momento, muitas vezes, dará o seu primeiro passo na Religião dos Deuses Africanos.

Dessa forma, não podemos em hipótese alguma, acreditar que num momento tão sublime, em que podemos desfrutar da presença dos Deuses em que acreditamos, considerá-lo como um folclore. Todas as etapas do Candomblé, por mais simples que possam parecer aos olhos de muitos, tem um significado fundamentado, que devem ser sempre consideradas como a nossa Religião e, jamais como folclore.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

O Rito do Zandró


A Nação Jeje comporta em seus fundamentos um vasto número de preceitos, tradições e rituais que a diferencia significativamente da cultura Nagô e, embora atualmente uma grande parte das casas de culto Jeje aos Voduns estejam, digamos assim, “nagonizadas”, muitas ainda mantém firme os ritos e fundamentos religiosos passados para nós pelos nossos queridos antepassados e por nossos ancestrais africanos. Pelo rito do Zandró – fundamento pertencente exclusivamente à Nação Jeje – o Povo do Vodun presta sua reverência aos que vieram antes e que hoje são para nós a memória do nosso povo.
Este ritual é de fundamentos por demais secretos, por isso, coloco aqui apenas a breve definição do mesmo.
A palavra Zandró  significa vigília e é uma cerimônia que se inicia ao cair da noite e vai até a madrugada. É uma cerimônia específica e particular para cada Casa de Culto, dedicada aos ancestrais daquela casa. No Zandró também se louvam os Voduns, os ancestrais. É um ritual firmado por uma sequência de cânticos e louvores específicos.
Há Voduns em particular como Ayizan – senhora dona do “gancho” da memória ancestre e dos antepassados – e, Azli Tògbósì (Aziri Tobosi) – a grande mãe jeje-mahi dos voduns – que recebem reverencia exclamativa neste ritual. Ayizan é vínculo para se reverenciar os antepassados; como não se cultua kukuto (egun, mortos) no Jeje-Mahi, é através dela que se prestam as reverências a eles. Aos pés do àtínsá (árvore sacra) de Ayizan são depositados vários pratos e ofertados a ela, num ato que muitas casas denominam “fundamento dos pratos”. As vodunsìs cantam para Ayizan ajoelhadas na esteira, batendo palmas e acompanhadas de cabaças (zàn). Aziri Tobosi recebe as comidas de todos os Voduns. A sequência de louvação no Zandró se inicia em Ayizan e termina em Aziri Tobosi.
O cerimonial do Zandró antecede as festas públicas (dòrozàn) do jeje-mahi, e é tido como um convite que se faz aos voduns para virem a festa, e seria o correspondente jeje do padê dos nagôs, embora não exista relação de culto entre os dois. É uma cerimônia restrita não podendo pessoas de fora participarem.
Autoria: Hùngbónò Charles

Ògún – Igbó-Igbó



Uma interesante cerimônia acontece todas as semanas, na África, para o Orixá Ògún-Igbó-Igbó, na pequena aldeia de Ishede, em Holi, região de floresta úmida situada exatamente na fronteira da república Popular do Benin (antigo Daomé) com a Nigéria.
Trata-se de uma típica semana Yorubá, cujos dias são dedicados sucessivamente a Exú, Ogun, Xangô e Oxalá.
Ishede permaneceu muito tempo isolado do mundo exterior, em função da natureza pantanosa do seu terreno, o que dificulta a construção de rodovias de acesso. Desta forma, esta aldeia tinha conservado até 40 anos atrás (quando foi realizado este ensaio fotográfico), os hábitos e os costumes religiosos dos antepassados, totalmente preservados das influências estramgeiras. Ishede era um excelente exemplo do que foram as cidades nagôs-yorubás antes da chegada dos missionários cristãos e mulçumanos e dos representantes do poder civilizatório.
O Alase (guardião do poder) de Ògún Igbó-Igbó detém, na ladeia, a posição de chefe tradicional. \estando sua autoridade fudamentada na força deste Orixá, o poder que ele possui é de características teocráticas, O Alase assiste e preside as cerimônias realizadas a cada semana Yorubá para homenageae Ògún Igbó-Igbó.
O templo de Ògun Igbó-Igbó está localizado numa grande clareira da floresta, vizinha à aldeia. O santuário onde são venerados os ferros de ògún, símbolos de seu poder, consite em uma choupana redonda, de teto em forma cônica, precedida de um galpão cujo o telhado de palha é sustentado por pilastras de madeira esculpida. Al lado do templo tem um pequeno cercado chamado Idomosun, onde são feitas as oferendas aos ancestrais dos participantes da cerimônia. Em outro cercado, em frente ao templo, guarda-se sob os cuidados de Yafero, o odundun, planta que acalma , conhecida no Brasil como Folha da Costa.
Dois outros Orixás também são abrigados em choupanas ou cabanas, sendo uma de forma cônica, que é o templo de Exú, a outra guarda os objetos sagrados de Oxóssi, o caçador. Existe ainda um abrigo que serve de “caserna” aos Egbenlas, os soldados de Ògún. Os tocadores de atabaquessãom instalados ao ar livre, ao lado do templo de Ògún.
Há ainda outros assentos em diversos lugares para os demais dignatários da cerimônia e, finalmente, para as mulheres que cantam para saudar, mas, que não entarm em transe durante os rituais. O Alase também não entra em trnse, este é um previlégio do sarcedote portador do título de Soba.
A manifestação da presença de Ògún é aconpamhada pelas presenças de Odé e Exú, que incorporam respectivamente em Onisegun e Oluponan.
Uma mulher, Yafero, é encarregada de acalmar Ògún se ele se tornar muito violento. Ela participa de todas as danças do ritual.
No dia consagrado a Ògún, o chão da clareira é cuidadosamente varrido, os sacerdotes dos Orixás e os dignatórios chegam uns após os outros tomam assento nos lugares determinados pela tradição.
Depois de algum tempo de pausa, a orquestra composta de três atabaques entarm em ação com seus cântigos e rítmos e os sacerdotes de Saba, Oxogun, Oluponan e Yafero, entram em transe e dançam em harmonia perfeita, uma espécie de quadrilha. Eles vão e vêm , saúdam os notáveis e pessoas presentes, Os egbenlas, soldados de Ògún, acompanham suas evoluções armados de facão.
Ao fim de um certo tempo, cada um dos participantes retorna a seu assento no lugar que lhes foi reservado, os atabaques param de tocar, os Orixás retornam aos seus templos e os sacerdotes depois voltam para confraternizar com todos.
Texto de Pierre Verger
*Publicado originalmente na revista Bric à Brac, IV, Brasília, 1990
Fotos sobre o texto podem ser vista no livro:Verger|Batiste – Dimensões de uma amizade.

Cartilha para legalização de Casas Religiosas de Matriz                                   Africana



Segue o link  da Cartilha para legalização de Casas Religiosas de Matriz Africana; um importante passo para nos defendermos mais da intolerância e sermos reconhecidos pelo Estado como detentores de religiosidade, cultura e fé. A cartilha clara, de fácil entendimento e mostra todos os passos necessários para legalizar a sua Casa de Axé.
Avante, irmãos!
Fonte: Página do axé Casa de Oxumarê (https://www.facebook.com/casadeoxumare)



Balaio de Ideias: 6+12=5



Mãe Stella explica o sentido da prosperidade na visão do Candomblé
Para quem tem como prática religiosa o culto aos orixás, o dia 6 do mês 6 foi, e continuará sendo, de extrema importância. Afinal, no profundo sistema numérico do jogo de búzios, o número 6 foi o responsável por trazer a prosperidade para a Terra. Para o povo africano, de quem herdamos uma boa parcela de nossa filosofia de vida, ser próspero é uma obrigação. Por isso, nessa data, o “povo de santo” fica todo ouriçado: põe suas melhores joias, sai para fazer compras e faz oferendas. Tudo para atrair prosperidade. O alcance dessa graça é um dos maiores desejos do ser humano. Mas quem é essa tão desejada prosperidade?…
Diferente do que normalmente se costuma pensar, a filosofia yorubá não relaciona prosperidade, apenas, a dinheiro. A referida palavra quer indicar uma reunião de circunstâncias que precisam ser buscadas, para que se vá alcançando, continuamente, um estado mais elevado do ser, em seus diferentes aspectos: físico, emocional, social, espiritual e, é claro, financeiro. Até mesmo porque de nada adianta se ter muito dinheiro sem a tranquilidade necessária para saber usá-lo com sabedoria.
Quando elevamos nossos pensamentos aos orixás, dizemos: Olu wá mi, fún mi ni ekun fún mi ni owo = Venha meu senhor e me traga força pura para que eu possa ter dinheiro. Força pura é o axé que permite que os obstáculos sejam vencidos. É um grande risco, então, pedir dinheiro aos deuses, sem que se tenha antes pedido e alcançado o axé necessário para que ele seja um aliado e não um inimigo. Dinheiro, sexo e poder são como “faca de dois gumes”: tanto podem levar à ascensão como ao fracasso.
Este artigo é fruto da vivência que tive com dois filhos meus. Um pela empolgação e outro pela curiosidade demonstraram interesse de conhecer mais profundamente, e de acordo com a tradição que os guia, um tema a que outras tradições também se dedicam com afinco – a prosperidade, que na cultura yorubá é simbolizada pelo número seis. É através da leitura dos números que esse povo e seus descendentes encontram soluções para as dificuldades diárias. Os números falam e os mitos nos ajudam a entender o que eles dizem. Sem o conhecimento das histórias míticas nunca entenderíamos o porquê de ser dito: 6 + 12 = 5:
O número 6 e o número 12 surgiram de um bloco de ouro. Eles se apaixonaram, perdidamente. Dessa união nasceu Ajé – orixá símbolo da riqueza –, irmã de Oxum – a dona da pérola e de outras pedras preciosas, orixá que tem no número 5 uma de suas formas de se comunicar. Do número seis, portanto, nasceram a riqueza e o costume de usar joias; mas também com ele vieram a vaidade e o orgulho, que podem levar à destruição de tudo que se conquistou. Esse número lembra-nos que o destino das criaturas é a prosperidade e que a humildade é uma das condições fundamentais para a aquisição desta graça.
O número 6 nos conta, através de um de seus mitos:
Todos os anos, Olorum fazia uma festa e convidava os números 1 a 16, a fim de que eles prestassem conta de seus atos na Terra. Encerrada a reunião, todos eram presenteados de acordo com o valor de seus méritos. Naquele ano, porém, a Divindade Suprema resolveu que daria um presente igual para todos. O número 6 era muito pobre e por isto seus irmãos foram até sua casa, antes da festa, para almoçar. A real intenção era humilhar o dono da casa, que mal tinha como alimentar sua própria família. Seis deu tudo que tinha guardado para a alimentação do mês. Nem assim deixou de sofrer gozação. Já cansado de tanta humilhação, ele desistiu de ir à tal reunião. Olorum sentiu sua falta, mas nada comentou.  No final da festa, os números, de 1 a 16 (menos 6), receberam uma abóbora. Todos ficaram revoltados com um presente tão simples e despejaram todas as abóboras na casa de 6. Eles só não sabiam que os frutos estavam recheados com ouro e joias. No ano seguinte, todos se surpreenderam ao ver que o mais pobre dos irmãos era agora muito rico. Olorum, então, disse-lhes: Vocês todos têm riqueza, mas 6 tem prosperidade.
Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. A cada 15 dias seus artigos são publicados no jornal A TARDE, sempre às quartas-feiras.



Ìbá’se Òsún, o Espírito dos Rios.



 
Embora o Òrìsà Obatalá seja o Senhor dos Mistérios do equilíbrio e igualdade e o proprietário dos Mistérios dos princípios feminino e masculino, é o Òrìsà Òsún quem é o proprietário das Forças de atração, Ibadana (afinidade), entre o masculino e o feminino. Embora Iyemoja seja o Dono dos mistérios da maternidade, é Òsún que manipula a natureza sexual não só dos ‘buscadores de Deus, mas de todas as criaturas e criações. Como a viagem do rio para o oceano é em última análise, a afinidade entre as criações masculinas e femininas é basicamente para a reprodução. Toda área abdominal é sagrada para Òsún e para que as mulheres, quandam desejam ter filhos devem propiciar o òrìsá para ajudá-las a alcançar seus desejos. Fertilidade é apenas uma das preocupações de Òsún. Este òrìsá também é responsável por todas as doenças abdominais e operações. Apesar de Òsún ser muito preocupada com a “reprodução”, ela é tão ou mais preocupada com as forças avassaladoras e prazeres provocadores que desbloqueiam os potenciais criativos dos princípios feminino e masculino. Òrìsà Òsún Oluwa áwo inu didun ipilese. A Dona dos Mistérios do Princípio do Prazer. Òsún é o Òrìsà do amor incondicional, receptividade e diplomacia. Òsún é associada com o mel, porque o mel é ao mesmo tempo agradável aos sentidos e tem grandes poderes de cura. Òrìsà Òsún incorpora todos os aspectos da natureza sexual da fêmea. Ela é Iwa Wundia (a virgindade), a maturação dos frutos na videira – aproximando a sua disponibilidade para satisfazer a fome e os sentidos de quem tiver a sorte de provar sua doçura. Ela é Iwa Obinrin (O Ser Mulher); encorporando todos os atributos femininos e masculinos de um ser ciente de estar maduro e fornecer a tela sobre a qual o homem pode escrever suas realizações como um homem, ela é o “espelho” que reflete o macho de si mesmo. Se o macho não respeitar, cuidar, elevar, apoiar e proteger a mulher e o fruto do seu ventre, ele só terá sucesso em diminuir a si mesmo. Òsún também é Pansaga Obirin (A Sedutora fêmea) – que através de seus prazeres, pode tentar o homem a arriscar o trono que ele tem, ou inspirá-lo a tomar o trono de outro. Quando o Àse se tornou auto-consciente e Òlódúmarè experimentou a primeira emoção do amor, – o aspecto do Àse que é o Òrìsà Òsún, ‘nasceu’. Um dos símbolos de Òsún é o espelho, mas isso não deve levá-lo a pensar que Òsún representa apenas a beleza externa. Como Mason e Edwards salientaram, “Òsún é a qualidade de uma mulher que emana beleza de tal modo que a visão não é necessária a fim de lhe apreciar.” Ela é: “… a idéia da excelência, tal como refletida por gosto, requinte e delicadeza.” Oríkì Òsún Eu me humilho diante dos mistérios de Òsún. Você é a Deusa do rio. Você é o proprietário dos Mistérios da Civilização. Você é o proprietário dos Mistérios do Amor. Você é o Òrìsà mais bonito. Você é o proprietário dos Mistérios do mel. Você é o proprietário dos mistérios do sexo e intimidade.
Àse.


I Semana de Cultura, Cidadania e Ecologia dos Povos Tradicionais de Terreiros – Por uma Cultura Viva sem Fronteiras

A Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira promove a I Semana de Cultura, Cidadania e Ecologia dos Povos Tradicionais de Terreiros. O encontro que tem por objetivo promover justiça social e ambiental será realizado durante a Rio + 20, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, até o dia 23 de junho, no Rio de Janeiro.
A Cúpula dos Povos tem por objetivo alertar o planeta sobre os riscos sinalizados no processo da Rio+20, questionando os limites de compreensão dos líderes políticos e o posicionamento do sistema capitalista acerca das crises que precisam ser enfrentadas neste século XXI.
Comunidades tradicionais, povos de terreiros, povos indígenas, griôs, quilombolas, pontos de cultura, agentes e ativistas culturais se organizam para aproveitar esse espaço de convergência e aglutinação de um amplo Movimento Social da Cultura que se organiza através de diversas redes culturais nacionais e internacionais.
Compreendendo a importância da cultura para pensarmos um novo modelo de envolvimento sustentável de maneira profunda, estrutural e orgânica, o encontro será um espaço aberto para vivenciar, visibilizar, celebrar, apresentar caminhos, trocar saberes, fazeres e tecnologias, intensificar diálogos e propor soluções simples, viáveis e eficientes – muitas das quais são praticadas há séculos pelas comunidades tradicionais – oferecendo assim, conhecimentos e práticas reais para a construção de uma sociedade global baseada na justiça social e no equilíbrio ambiental.
Terreiros Digitais – Durante toda a Cúpula, comunidades de terreiro receberão informações via internet, com o objetivo de propor para a dinamização e o empoderamento dos participantes no debate e disseminação da cultura digital através da ancestralidade. Acompanhe pela Rádio Stream Mojubá, Laroie, Exu! Conexão Oyá Togun, sempre às 18 horas.
Candomblé e Direitos Humanos, Espaço Xangô – Direito Sagrado, Ouvidoria de crimes contra cultura e religião são alguns dos temas tratados pela programação que transmite amplexos radiofônicos emitidos por Terreiros de todo o Brasil.
Programação da I Semana de Cultura:
20 de junho – quarta
9h30 – Roda de Acolhimento de Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros 10h – Mobilização Global Mãe Beata de Yemanjá e Wole Soiynka – Mestres de Cerimônias das Culturas Tradicionais
14h – Marcha Mundial dos Povos (Candelária)
18h – Programação Cultural Show Barravento
Grupo Cultural O Som das Comunidades: Entra na Roda
21 de junho – quinta
9h30 – Roda de acolhimento Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros e povos das Florestas
10h – Dinamicas Glocais – Cultura, Cidade, território e modelos de desenvolvimento Camilo Bogotá – subdirector de Prácticas Culturales – Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deporte de Bogotá Edwin Cubillos – Gestor de Cultura Viva Comunitaria – Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deporte de Bogotá Hamilton Faria – Instituto Pólis (SP) Atílio Alencar – Casa FDE PoA
12h – Intervenção teatral: Centro de Teatro do Oprimido: Direito à Moradia
12h30- Oficina Percussão da Maré
15h – Roda de Conversa – Artes Públicas e Direito à Cidade Amir Hadad – Teatrólogo e Diretor do Grupo Tá Na Rua Reimont Ottoni – Vereador e Presidente da Frente Parlamentar de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro Giuseppe Cocco – Universidade Nômade/ UFRJ Zeca Ligiéro- NEPAA/ UNIRIO
Programação Artística:
18h – Tá na Rua ” Santo Antônio de Lisboa e a Sereia do Mar”
20h30 – Up with people
22 de junho – sexta
Kao, Xango!
9h30 – Roda de acolhimento Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros e povos das Florestas
10h às 12h -Dança Palco Pequeno – Iara Cassano
13h – Almoço
15h – Assembleia Cultural dos Povos – Direitos Culturais – Cultura como Bem Comum
23 de junho – sábado
14h – Reunião da Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira Encaminhamentos, finalização de sistematização dos documentos
20h – Festa de Xango
Fonte: Pontão de Cultura Guaicuru

CILADAS NO CAMINHO DA ASCENSÃO ESPIRITUAL



Autores de livros de autoajuda frequentemente listam coleções de atitudes e sentimentos que resultam em entraves para a trajetória daqueles que se empenham na sua evolução espiritual. Aqui vai a nossa lista de observações para o seu autoexame, com itens que consideramos perigosas armadilhas sempre à espreita do Ego desavisado e que podem conduzir a enganos, resultando em grande perda de tempo na senda:
1. Não reconhecer a negatividade do seu Ego como fonte primeira de todos os problemas, tudo atribuindo a fatores exteriores. Deixar de vigiar e educar de modo correto o seu Eu Interior, mergulhando intensamente na vida espiritual e tudo ao sobrenatural atribuindo, em desconsideração ao aspecto psicológico da sua personalidade.
2. “Amar” aos outros, descurando a si mesmo. Utilizar o álibi do “serviço ao próximo”, ignorando as responsabilidades para consigo próprio e para com os seus dependentes imediatos. Quem não ama a si mesmo é incapaz de amar a quem quer que seja. Só compartilha quem dispõe de algo a ser compartilhado. A Escola Terra destina-se ao burilamento do Eu Divino que se encontra em estado bruto e revestido por camadas egóicas no interior de cada um.
3. Comer incorretamente, ignorando a constituição química do seu corpo físico. Acreditar que numa alimentação que restrinja o prazer degustativo, ou no jejum, encontrará as chaves mágicas da ascensão espiritual. Não praticar exercícios físicos para cuidar do corpo físico que, afinal, é o nosso instrumento principal. Tender para o ascetismo e desligar-se demasiadamente das coisas da Terra, vitais para a nossa experiência em matéria. Identificar-se excessivamente com seus corpos mental ou emocional, sem ter ainda atingido o equilíbrio necessário. Considerar-se evoluído demais para estar na Terra, ao invés de tentar contribuir para uma mudança de paradigma aqui e agora.
4. Exercer domínio sobre os outros através de ameaças e manipulações, sufocando as manifestações do seu livre-arbítrio. Deixar-se enredar pelo glamour e ilusão dos próprios poderes, acabando por esquecer o amor incondicional – onde reside o poder espiritual supremo. Ter a pretensão de acreditar e assegurar que está no “final da roda encarnações”.
5. Tornar-se um extremista fanático, sem enxergar o equilíbrio do caminho do meio. Buscar argumento e justificativa nos dogmas das religiões formais, sem exercer com lucidez o seu próprio discernimento. Apoiar-se e depender da figura de um sacerdote ou guru como intermediário entre si e o Divino.
6. Tornar-se sisudo, autoritário e formal, a ponto de privar-se da alegria e da diversão. Mascarar tranquilidade e suavidade, enquanto a presunção interior ferve com irritação e intolerância.
7. Ser indisciplinado nas suas práticas espirituais, abandonando-as quando se envolve num relacionamento amoroso e conferindo prioridade a ele, em detrimento do seu processo interno.
8. Esperar que Deus, os Mestres ascensionados - ou seja lá quem for – resolvam todos os seus problemas, intercedam pelas suas dívidas cármicas ou assumam as suas responsabilidades. Acreditar que alguém teve o privilégio de nascer “pronto” e que os Seres e Mestres ascensionados não trilharam o mesmo caminho dos desafios, provas que a evolução requer.
9. Convencer-se de que o sofrimento e o cultivo da pobreza são méritos que poderão acelerar a sua evolução ou engrandecê-lo espiritualmente. O trabalho eficiente que produz frutos e riqueza que a muitos beneficia é uma bendita missão na Terra. Cada um tem o direito de honrar o seu próprio esforço e reconhecer o seu valor. O manto da humildade costuma servir de disfarce para a arrogância e o orgulho exacerbado. Falsa humildade não deve ser confundida com elevação espiritual. Quem conhece a sua verdadeira e ínfima dimensão perante o Divino, não precisa mascarar humildade, inferiorizando-se perante os seus semelhantes.
10. Não fechar o seu campo energético, convencido de que “as boas intenções” o tornam imune a todas as influências negativas. Achar que, partindo da premissa de ser merecedor, seus desejos e pedidos devem ser sempre “atendidos”. Ser bem-sucedido é muito gratificante, mas o objetivo principal da vida não é a obtenção de tudo o que se deseja.
11. Viver na zona de conforto relaxando a vigilância sobre suas falhas, acreditando que está imune a quedas e retrocessos.
12. Ler demais, não meditar o bastante e colocar em prática menos ainda.
13. Considerar uma grande honraria poder servir como canal para entidades de outros planos, ao invés de expressar a sua própria voz. É preciso estar ciente de que, mesmo o mais evoluído dos Seres – da Terra ou de outro orbe – não detém o conhecimento total ou poderes ilimitados. Esta é uma prerrogativa da Divindade Suprema – que comanda todo(s) o(s) Universo(s) com seus muitos trilhões de galáxias.
14. Forçar a elevação da sua kundalini e a abertura dos chakras, sem ter ainda o necessário amadurecimento em outros aspectos, como se isso, por si, assegurasse o acesso ao “nirvana”. Portanto, o ideal é procurar equilibrar e integrar intuição, intelecto, sentimento e instinto, cada qual na sua devida proporção e valor.
15. Considerar o seu caminho espiritual – quando não o único-melhor do que o dos outros e aferrar-se a este caminho como Verdade única e definitiva, sem considerar que as vias são inúmeras e que a impermanência é constante no Universo manifestado. É preferível abster-se de discussões ou da pretensão de, no entusiasmo das suas experiências, convidar o outro a experimentar as vivências que são suas. Para cada patamar há afinidades próprias e experiências particulares.
16. Julgar as pessoas em função da sua antiguidade na senda espiritual ou do nível de iniciação que alcançaram. Gabar-se das próprias façanhas espirituais ou das dos seus mentores e guias. Forçar com ansiedade as próximas etapas, ao invés de concentrar-se na realização do trabalho – e nos dissabores – da etapa atual.
17. Competir, comparar-se com outras pessoas e acabar invejando o sucesso alheio, ao invés de perceber que somos únicos, com dons e potencialidades próprias, cada qual segundo circunstâncias e vivências específicas. Por fim, jamais esquecer que o Caminho é individual e, portanto, solitário. Não se imbuir da busca infrutífera de uma eventual “alma gêmea”, sem perceber que a sua própria Alma – a Mônada – dispõe de ambas as polaridades para se complementar plenamente.
Por Òya gbémi – Eliane Haas
Ìyá Ègbé Ilè Àsè Efunlase


Sasányìn – O culto as folhas sagradas.



Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kossi ewé, kossí Orixá! Sem folha, sem Orixá.
Ter o conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí na confecção do adòsú, na preparação da enin do futuro iyawo como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do iyawo para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência.(quente/fria, macho/femea).
O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalossayìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.
As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre as enins para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os iywos que se encontram de surrão. O Babá ou Iyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo sobre as folhas, conectando seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela acesa à frente, sem pressa e rápido. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ajubó de Òssayìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.
Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada, e também, sempre com louvação a Pai Ossayìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Iyawo participa que é entregue a Exú Òdàrà em seu ilê, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do axé.
Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà! Orún ejé.
“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Ossayìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Babás, Iyás, ancestrais, aos egbons, sua raiz e axé, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Orunmilá e por fim a Oxalá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas de axé, reverenciando o Màrìwò e Ósányìn.
“Ògbèri nko mo Màrìwò” – O não-iniciado não pode conhecer o mistério do Márìwò.
Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o Axé, para o osé, etc.
Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o Igbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas.
Pai Òssayìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que passarinho pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do axé das casas ketu/Nagô. Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidaes, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.
Ewé Òrìsà!
Fernando D’Osogiyan


Ọrúnmìlá e a perseverança.



Ọrúnmìlá recomenda perseverança em tudo o que seus seguidores fazem. Vocês não poderiam em sua própria vontade vingar alguma ofensa feita a eles pelos outros. Ele não quer seus seguidores envolvidos em ações diabólicas, especialmente aquelas que objetivam a destruição de outras pessoas. Ele avisa nos poemas, que aqueles que tomarem as almas de outros, também pagarão com suas próprias almas ou com as almas de seus filhos e netos. Ele insiste que a posição dele é a melhor para proteger seus filhos, caso eles não resolvam tomar as leis da natureza em suas próprias mãos. Ọrúnmìlá insiste em que se alguém planeja a morte contra seus filhos, ele certamente fará com que a conspiração não tenha sucesso.
Contudo se seus filhos revidarem planejando também a morte ou a ruína daqueles que o ofenderam, Ọrúnmìlá rejeitará a justificação dos argumentos nos casos de cada filho, quando as divindades se reunirem em julgamento sobre a questão. Nenhuma questão é estabelecida sem ter sido determinada pelas divindades. Estas por sua vez, não condenam ninguém sem um julgamento limpo. Mas se alguém adquire por preempção ao julgamento divino pela lei do retorno, olho por olho, ele perde a justiça de sua causa. Ọrúnmìlá recomenda que seus seguidores tenham conhecimento de qualquer um que queira planejar o mal contra eles, sua primeira reação será ir ao oráculo a fim de descobrir se a pessoa terá sucesso.
Frequentemente se o peso da culpa está dentro da outra pessoa, será dito que o inimigo não o vencerá. Se por outro lado, o peso da culpa se inclina levemente contra você, você será orientado durante a consulta oracular no sacrifício o qual deverá fazer a fim de que a conspiração maléfica contra sua força pessoal não tenha sucesso.
Ao invés de fazer sacrifício, algumas pessoas preferem ainda os atos vingativos através da ida aos feiticeiros para preparar remédios mortais, com os quais combaterem o inimigo. Em alguns casos, se Ọrúnmìlá vê que o remédio que seu filho está preparando contra seu inimigo fará a ele algum mal e o mesmo obterá repercussão dolorosa no desenrolar, ele neutralizará a força do remédio e o tornará inútil.
Diante desta situação a pessoa forte começa a se questionar se o feiticeiro o enganou. Ele não o fez.
Ọrúnmìlá tem apenas demonstrado para seus filhos que destruir algum inimigo é destruir a si mesmo. Se você aponta um dedo na direção do seu inimigo, os quatro restantes, os quais são em maior número e simbolizando o eco, estão apontando para você. Ọrúnmìlá ilustrará que alguém que cava a sepultura de seus inimigos está ao mesmo tempo cavando sua própria. Este é o motivo de que a oração frequente de Ọrúnmìlá é para o bem dos amigos, inimigos, feiticeiras, divindades, irmãos e irmãs, assim que por esta razão aqueles que lhe desejam mal talvez não o alcancem.
Ele defende que é frequentemente muito recompensador para você orar por um inimigo que está planejando o mal contra você do que quando as divindades se unem para solucionar o caso, o peso da probidade estará ao seu lado. É melhor ter o suporte das divindades em certa situação do que atrair sobre si a sua reprovação.


Quem vencer o inimigo interno não deve temer o inimigo externo



Aqueles que adoram òrìsá estão empenhados em encontrar uma maior consciência de si e do mundo.  Ifá ensina que este caminho tem suas raízes no processo de superação do medo.  Há aqueles que vivem com medo e perpetuam este medo em vez de encontrar o seu destino. Ifá como a maioria das tradições espirituais, ensina que o medo é superado pela coragem.  Não há maneira fácil de acessar a coragem e a cada confronto com o medo envolve uma ação, apesar do medo. Ifá reconhece que uma das maneiras mais fáceis de evitar o medo é sufocá-lo.
Por exemplo, se alguém está com medo de falhar, enquanto procura um emprego, argumentando que o medo pode negar que não há empregos disponíveis.  Os psicólogos chamam esse processo de “deriva”.
Um elemento-chave na vida em harmonia com o òrìsá é a capacidade de identificar, apoiar e transformar esses medos internos que impedem a ação.
Este provérbio é muito claro em afirmar que uma vez que os medos interiores forem superados. os medos que ocorrem no mundo exterior tornam-se insignificantes. Um dos rituais usados para desafiar o medo é a invocação de Ogum. A invocação é seguida por um pedido a Ogum para que os obstáculos que estão no caminho sejam removidos para o fortalecimento do destino pessoal.  Quanto mais eu sabia que Ogum era reverenciado na África por este motivo, mais claro também ficava para as pessoas que atendiam a este chamamento a Ogum, a surpresa ficava em descobrir que os obstáculos são internos e não externos.
Em termos literais a obstrução é imaginária e não real. De acordo com as escrituras de Ifá, os obstáculos criados são chamados de “demônios” imaginário ou em nossa cultura chamamos de Elenini. Os demônios imaginários são difíceis de dissipar, porque eles permanecem ilusórios, sempre mudando de forma, pouco antes de uma real transformação ocorrer. Eu acho que muitas pessoas que disseram que queriam ter sucesso em suas carreiras, mas nunca fizeram progressos concretos, freqüentemente tinham muitas desculpas para esta situação, normalmente focavam em exemplos reais de tratamento injusto.
Quando a divinação indica que a questão principal é o medo do sucesso, a mensagem pode ser muito difícil de ser  aceita. Na minha experiência, aqueles que não aceitam que o seu problema é o medo, geralmente são aqueles que não progridem.
Por Awo Fatumnbi


Os Orixás



Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários.
Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus deuses vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente.
Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos – água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias.
No Candomblé cultuam-se muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. É muito frequente dizer-se que as personalidades dos seus filhos são consequência dos orixás que regem as suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos.
Apresento a seguir as descrições dos 16 Orixás mais cultuados. Recordo no entanto que existem diversas correntes no Candomblé e por essa razão as informações poderão ser diferentes de acordo com a tradição ou região.


Parabéns, Mãe África!



Parabéns a Mãe Africa por seu dia: 25 de Maio dia Internacional da África
Perdoe-nos, Mãe África,
por termos subjugado seus povos
suas religiões, culturas, hábitos e tradições
Impondo-os o que julgávamos civilizado
e aceito pelo Deus que os obrigamos a conhecer e adorar.
(Poema de Pollyana Almie)
O dia 25 de maio foi instituído pela ONU como o “Dia da África”. A efeméride foi criada em 1972 para simbolizar toda a luta do povo africano pela sua independência e emancipação.
Casa do Oxumare.


Amarrações



Este é um dos temas mais polémicos de que podemos falar, não só no enquadramento do Candomblé, como de qualquer prática religiosa que utilize rituais de magia.
Cabe em primeiro lugar salientar que a magia, como tudo na vida, tem o seu lado bom e o seu lado mau, ou se preferir-mos, o seu lado positivo e o seu lado negativo, e cabe a cada um de nós escolher a utilização que lhe queremos dar.
Está na natureza humana a constante luta por conseguir tudo aquilo que pretende, desde os objectivos mais elevados, até àqueles que nem vale a pena descrever… de tão ignóbeis que podem ser. E uma vez mais, aqui, também é a nossa escolha que prevalece. Somos nós que escolhemos as nossas metas e os nossos objectivos, e por isso, cabe-nos a nós também escolher os meios. E se não é tão questionável que os fins justifiquem os meios, devemos de facto preocupar-nos com os meios que escolhemos para atingir os nossos fins, porquanto, pelo caminho, estão quase sempre em jogo pessoas… e até vidas!
Particularmente no Candomblé, e porque esta página a ele é dedicada, a prática de rituais de magia é uma constante, mas, vamos então analisar como ela é utilizada, por quem e para que fins.
Os Ebós, as Oferendas e as Simpatias, são algumas das formas de magia que utilizamos, mas estes, todos eles sem excepção, foram criados originalmente com o intuito de corrigir alguma situação errada na vida de uma pessoa e para tal pode-se recorrer ao auxílio de diversas entidades; em primeira linha aos Orixás e depois, a outras entidades, que pelo seu estado evolutivo e pelas suas características, se assemelham mais a nós, humanos – aqui enquadram-se os Exús pagãos, as Pombagiras e os Caboclos – e estão de facto num plano mais próximo de nós.
Qualquer destas entidades pode ser uma mais valia na vida de uma pessoa, pois o seu auxílio chega sempre, e se devidamente tratados são nossos aliados preciosos.
Mas a magia, como já referi, também tem as duas faces da moeda, e a quem a pratica, é necessário, diria mesmo essencial, conhecer os dois lados, tornando-se mais uma vez necessário escolher o lado que se vai utilizar, e esse lado deve ser sempre o lado positivo  e construtivo.
Poderíamos aqui, a título de exemplo, encarar como um veneno, que pode ser utilizado e para o qual é sempre necessário conhecer o antídoto: é do próprio veneno da cobra que se criam os antídotos que são utilizados para curar quem é picado por ela -  na magia, grosso modo, também temos que conhecer tanto o veneno como o antídoto, porque para se tratar ou curar alguém que tenha sido atingido pela magia negativa, é necessário saber contrapor.
Obviamente, não vou aqui explicar – nem o poderia fazer – os detalhes desse conhecimento, o importante é que fique claro que quem mexe com um lado tem que conhecer o outro. Um dos magos mais conhecidos de sempre, São Cipriano, começou por ser um dos melhores magos que já se conheceram a manejar a chamada Magia Branca, mas de igual modo, mais tarde na sua vida, virou, e tornou-se um dos mais temidos e eficientes magos da Magia Negra. Também para ele isto só foi possível porque tinha conhecimento verdadeiro e profundo de como os dois lados funcionam.
Portanto, assim como se pode Amarrar, também se pode sem dúvida Desamarrar, mas isto só é possível a quem tenha verdadeiros e fundamentados conhecimentos.
Convenhamos no entanto que não são muitos aqueles que estão verdadeiramente capacitados para isto, portanto, quando pensar em fazer ou solicitar uma Amarração, pense, não duas, não três vezes, mas muitas vezes naquilo que está a pedir, pois você jamais terá a garantia de que o seu pedido possa ser atendido
Ao fazer uma Amarração, você não só estará a pedir algo para si, como estará a mexer com a vida de outra pessoa, e de alguma forma forçando-a a agir de uma maneira que ela muito provavelmente não quer, não de forma voluntária e consciente. Quando isso acontece, muita coisa se altera, e por vezes os resultados não são nada satisfatórios e são até perniciosos para a vida das pessoas envolvidas.
Imagine uma situação em que você quer muito ficar com uma outra pessoa e faz uma Amarração para conseguir o seu intuito. Imagine agora que uma segunda pessoa está interessada nessa mesma pessoa para quem você fez a Amarração e resolve também, para conseguir o seu intuito, fazer também uma Amarração. Como é que fica essa pessoa que está pelo meio? E você, vai conseguir o seu intuito? Ou é a outra pessoa que vai conseguir?
Este tipo de situação não é inédito, é até cada vez mais comum, dado que são cada vez em maior número as pessoas que recorrem a este tipo de magia (embora a maioria jamais vá admitir que o fez!), e garanto que daqui não sai nada de bom para nenhuma das partes envolvidas, só confusão e mais confusão e muita dor. Cria-se assim um ciclo vicioso, e nenhuma das partes vai sair a contento.
Ainda que posteriormente seja feita a magia para Desamarrar, entretanto, já muita coisa aconteceu que não tem retorno e já nada voltará a ser como era antes, ainda que a Desamarração seja um sucesso. Amarração mexe com o destino da pessoa, e nós simplesmente não temos o direito de impor a nossa vontade na vida e no destino dos outros. Esta forma de utilizar a magia não é de todo uma forma positiva. Está na hora de todos perceber-mos isto e agir-mos em conformidade.
Gostaria, de uma vez por todas, que os verdadeiros adeptos e/ou praticantes do Candomblé, independentemente do posto que ocupem, se negassem determinadamente a aceitar este tipo de trabalhos que constantemente nos pedem, ou sequer de pensar neles como uma solução para as nossas vidas, porque não é de facto uma solução; mais que não seja, pelas consequências kármicas que lhes são inerentes e que o nosso lado espiritual jamais deve esquecer – chama-se Lei do Retorno!
Há sempre uma forma diferente de ajudar as pessoas… pelo lado positivo!
Axé!


Hoje eu queria falar da fé


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Hoje eu queria falar da fé.
Da fé que creio ser a força motriz de tudo e da minha fé na atuação das forças invisíveis, dos meus orixás na vida.
Nos últimos tempos venho me colocando – de forma bastante cuidadosa – nos lugares das pessoas próximas a mim, venho tentando imaginar/sentir como são algumas dores sentidas por elas e o tamanho dessas dores longe de serem dores físicas. Algumas dores são pequenas, outras de um tamanho que por mais que eu tente, eu não consigo mensurar, pois seria invadir um mundo que não é meu, uma vida que eu não vivi. Porém, assim como todos, de uma menor ou de uma maior forma, eu também senti dor: a dor do fracasso, a dor do medo, a dor do fim do amor, a dor da perda, a dor da despedida, a dor que dói no outro e agente queria que fosse na gente…
A gente passa por essa vida, percebe que nela há diversas cores, que o vento é brisa, que a terra fria acalma, que a água fertiliza, que há sorrisos, que há música e quando nos faltam pessoas, ainda assim, não estamos sós, pois temos o nosso orixá. Mas ainda assim, dentro dessa complexidade gigante e quase incompreensível que é a natureza humana, há a dor, há a possibilidade do sofrimento, há o desespero que tenta matar a esperança. E neste túnel longo do desespero, escuro, áspero existe sempre uma luzinha, às vezes forte, incandescente, às vezes fraca, quase apagada: a fé.
Outro dia em conversa com o pai Fernando, falei que a fé é como m ãe e pai, no sentido de cuidado mesmo, de cuidado incondicional, de cuidado que não abandona, que dá a vida pelo filho, que está lá mesmo que não receba o respeito que merece, mesmo que não seja valorizada da forma que merece, mas está lá do nosso lado, disposta a nos acalentar, a nos por no colo, nos proteger e nos dar força. Força pra qualquer coisa: pra continuar numa batalha ou aceitarmos a derrota. É, meus irmãos, às vezes perder é inevitável até pra nós que temos muita fé, que alimentamos a nossa fé, que temos orixá como princípio norteador…
Acho engraçado quando alguns leigos e até religiosos nos questionam sobre os percalços da vida como se nós fossemos privilegiados e por sermos privilegiados não deveríamos passar por dificuldades. E até duras dificuldades.
Afinal, desde quando orixá ensina que a vida é fácil?
Eu vivi e vivo o riso e o choro com os orixás, eu vivo o momento de agradecimento, de sentimento de plenitude, de sorrisos com os orixás, mas vivo o momento do choro, o momento do desespero, o momento da dor. Vivo também aquele momento que muitos como eu já viveram de deitar o Ori pra chorar aos pés do orixá, se sentir abraçada, acalentada por ele e levantar não com o problema resolvido, não com a dor curada, mas com força; com força e fé revigoradas pra seguir adiante, pra olhar para a vida, saber que ela não é perfeita, porém é o que tenho de maior recebido por Olorun e é nela que eu tenho que fazer o meu melhor, lutar com toda a garra, amar com todo o amor, sorrir com todo o sorriso, abraçar com todo abraço, viver com toda vida e acreditar com toda fé.
Pensamos, no auge da turbulência, que não passa, mas passa. Pode demorar dois meses ou dois anos, mas passa. Tudo passa. E com fé, com as boas energias dos orixás, tudo vai se amenizando e a nuvem cinza, carregada, que chega pra nublar as nossas vidas, passa. Abrimos as nossas janelas e percebemos o céu azul aparecendo timidamente, mas ele aparece. E daí para vermos o arco-íris que Oxumarê nos deixa como sinal de que outros ciclos estão chegando é mais fácil. Então aos poucos, através das nossas janelas e do novo olhar que nos chega, percebemos o vento nos convidando, o barulho das águas nos mostrando fluidez e transformação, as árvores nos mostrando continuidade.
Os orixás cuidaram de nós durante a dor, a turbulência, o sofrimento; agora estão reabrindo os nossos olhos, renovando os nossos olhares e mostrando que não somos fracos para desistir, que eles estão sempre a postos para trazer cor e a capacidade do recomeço.
Portanto, hoje peço, rezo e elevo este pedido aos orixás para que nós sempre tenhamos esta sensibilidade, esta capacidade de acreditar na fé, de sentir o “Calma, filho” vindo do orixá, pois não estamos sós. Olorun deu-nos uma vida, um mundo e uma grande força: o orixá.
Axé.


REFLEXÃO

Um Yawo(feito no Santo) pediu αos Òrìsàs um emprego, e umα mulher que o

αmαsse muito.
No diα seguinte, αbriu o jornαl e tinhα um αnuncio de 
emprego.
Ele foi, viu α filα muito grαnde e disse: eles são melhores 
do que eu, e foi emborα.
No cαminho e já dentro do ônibus, um gαroto
lhe deu umα rosα, ele chαteαdo
jogα α rosα forα . e αo chegαr em cαsα
brigα com os Òrìsàs ..
É αssim que me trαtαm?
É αssim que me
αmαm?
E vαi dormir. Em sonho Oxala lhe diz: O emprego erα seu,
mαs
vc não confiou e disistiu αntes de lutαr; αquelα rosα foi eu que te
dei...
inspirei αquelα criαnçα α lhe dαr!!!
O αmor dα suα vidα,
estαvα sentαdα αo seu lαdo em
vez de vc dαr α rosα α elα vc α jogou
forα.
vc entendeu como os Òrìsàs αgem nα suα vidα?
Eles αbrem αs
portαs te mostrα o cαminho mαs α tuα fé e
tão poucα que desiste no
primeiro obstαculo.
Não desistα confie nos Òrìsas, como eles
podem αgir nα suα vidα. Os obstαculos
existem pαrα ver αté onde vαi α
tuα fé


Atabaque, N’goma ou Ilú



Ng’oma ou ngoma (expressão que significa “tambores”) é o tambor típico encontrado em toda a África bantu, construído esticando uma pele de animal sobre um cilindro de madeira. O seu uso foi levado pelos escravos negros por todo o mundo. No Brasil é usado nas cerimónias do candomblé.
É semelhante às congas.
O Atabaque de Origem Africana, hoje muito utilizado nos cultos aos Jinkisi – Orixás e Voduns, de religiões também de origem afro, É na verdade o caminho e a ligação entre o homem e e seus Jinkisi”, os toques são o código de acesso e a chave para o mundo espiritual. Existe informação sobre o atabaque escrita sob duas perspectivas diferentes:
   
  O atabaque enquanto objecto sagrado no candombléBatuque e Xambá
De origem africana, o atabaque é usado em quase todos rituais afro-brasileiro, típico do Candomblé e da Umbanda e de outros estilos relacionados e influenciados pela tradição africana. De uso tradicional na música ritual e religiosa, empregados para convocar os Jinkisi.
O atabaque maior tem o nome de RUM o segundo tem o nome de RUMPI e o menor tem o nome de LE.
Os atabaques no candomblé são objetos sagrados e renovam anualmente esseAxé. São usados unicamente nas dependências do terreiro, não saem para a rua como os que são usados nos Afoxés, estes são preparados exclusivamente para esse fim.
Os atabaques são encourados com os couros dos animais que são oferecidos aos Jinkisi, independente da cerimônia que é feita para consagração dos mesmos quando são comprados, o couro que veio da loja geralmente é descartado, só depois de passar pelos rituais é que poderá ser usado noterreiro.
O som é o condutor do Axé do Jinkisi, é o som do couro e da madeira vibrando que trazem os Jinkisi, são sinfonias africanas sem partitura.
         Os atabaques do candomblé só podem ser tocados pelo Alagbê (nação Ketu), Xicarangoma (contração de Kuxika ria N’goma ou tocadores de atabaque – nações Angola e Congo) e Huntó (nação Jeje) que é o responsável pelo RUM (o atabaque maior), e pelos ogans nos atabaques menores sob o seu comando, é o Alagbê que começa o toque e é através do seu desempenho no RUM que o Jinkisi vai executar sua coreografia, de caça, de guerra, sempre acompanhando o floreio do Rum.
Os atabaques são chamados de Ilú na nação Ketu, e N’goma na nação Angola, mas todas as nações adotaram esses nomes Rum, Rumpi e Le para os atabaques, apesar de ser denominação Jeje.
Essa é a diferença entre o atabaque do candomblé e do atabaque comoinstrumento musical comprado nas lojas com a finalidade de apresentações artísticas, que normalmente são industrializados para essa finalidade.
Enfim, Os jingoma (plural de Ngoma) ou Atabaques ou Ilús, como vimos são objetos sagrados, e com a capacidade de com seus toques e vibrações, convocar o N’kisi, Vodum ou Orixá a terra.


Jurema, a árvore sagrada




Desde o século XVI, documentos escritos pelo colonizador e narrativas deixadas por cronistas e viajantes relatam rituais mágico-religiosos encontrados entre populações indígenas do nordeste brasileiro, em que bebiam, fumavam, manipulavam ervas, invocavam seus antepassados. Um desses escritos descreve a santidade do Jaguaripe ocorrida no sertão baiano por volta de 1583, evidencia um processo de religiosidade sincrética nascida no encontro entre missionários e índios e revela relações de dominação-subordinação entre nativos e portugueses. O culto aos maracás da santidade reproduz a crença de que os maracás abrigavam os espíritos, sendo adorados e idolatrados através de cantos, danças e do uso do tabaco. Apresenta-se simbolicamente como uma forma de resistência da população indígena contra a colonização portuguesa.
Um outro documento menciona o falecimento na prisão, em 1758, de um índio da aldeia de Mepibu, no Rio Grande do Norte, preso por ter feito adjunto de jurema, cerimônia coletiva com fins religiosos e terapêuticos, em que dançavam, fumavam cachimbo e bebiam jurema. Em 1816, o viajante inglês Henry Koster observa uma dessas cerimônias realizadas nos arredores de Olinda e descreve que havia um grande vaso de barro no centro da cabana em torno do qual dançavam homens e mulheres e o cachimbo era passado entre os participantes.
A prática da jurema nordestina, também conhecida como catimbó, é parte de um longo processo de transformação e assimilações culturais que se difundem pela região, sendo encontrado nas comunidades indígenas e no interior de diferentes religiões afro-brasileiras, como o candomblé, o xangô e a umbanda. A jurema compõe um complexo de concepções e representações em torno da planta jurema e se fundamentam no culto de possessão aos mestres, cujo objetivo é curar os doentes e resolver os problemas práticos da vida cotidiana, como os infortúnios amorosos e profissionais. Como ressalta Roger Bastide, o que conta “são os desejos ou as necessidades individuais, é a vida cotidiana com suas doenças, seus romances de amor, seus ganhos, suas tristezas e seus sonhos de um futuro melhor”. Esse complexo inclui ainda a bebida preparada com a casca da jurema e o uso da fumaça dos cachimbos nos rituais.
O culto tem por base um sistema mitológico no qual a jurema é considerada árvore sagrada e, em torno dela, dispõe-se o “reino dos encantados”, formado por cidades, que por sua vez são habitadas pelos “mestres”. Uma outra explicação mitológica apresenta uma visão cristã quanto às origens do culto ao afirmar que, antes do nascimento de Deus, a jurema era tida como uma árvore comum, mas, quando a virgem, fugindo de Herodes, no seu êxodo para o Egito, escondeu o menino Jesus num pé de jurema, que fez com que os soldados romanos não o vissem, imediatamente, a árvore encheu-se de poderes sagrados, justificando, assim, que a força da jurema não é material, mas espiritual, dos espíritos que passaram a habitá-la.

O mestre é a entidade espiritual central da jurema nordestina. Os mestres são falecidos juremeiros que detinham os conhecimentos de sua prática. Segundo Mário de Andrade, no século XVII, em Portugal, os feiticeiros curadores eram chamados de mestres. Nas cerimônias da jurema, também se denomina mestre o dirigente de uma sessão. Os mestres vivos incorporam os mestres mortos que habitam as cidades sagradas da jurema, ligando esses dois mundos por meio do transe. Os mestres seriam espíritos curadores que, em vida, conheceram os segredos das plantas curativas e que são convocados para trabalharem em uma sessão, a fim de aliviar os sofrimentos humanos. Cada um tem uma linha, que é representada pelo cântico entoado pelo dirigente da sessão e que precede sua visita a terra. O canto é uníssono e acompanhado pelo maracá. A linha resume a ação sobrenatural, as excelências do poder e a sua especialidade técnica. Com fisionomia própria, gestos, voz, manias, predileções, cada mestre narra as suas aventuras, conta o seu nome e a sua vida. Ele possui a semente, o sinal de sua legitimidade e autenticidade, eficácia e poder sobrenatural.
Além dos mestres, outra categoria de espírito é significativa, o caboclo, ao qual se atribui identificação indígena e conhecimento de ervas e raízes. São muitas as entidades espirituais cultuadas no universo da jurema, entre elas: Mestre Carlos, Mestre Seu Zé Pilintra, Manoel Cadete, Mestra Faustina, Mestre Germano, Mestra Luziara, Mestra Maria do Acais, Mestre Malunguinho, Mestre Pilão, Negro Gerson, Cabocla Jurema, Caboclinho da Jurema, Caboclo Pedra Preta, Índio Pena Branca, Japiassu, Rei Canindé, Rei de Urubá, Rei Salomão.
A prática da jurema continua vivenciando processos de reelaborações, adquirindo outros elementos simbólicos, como na fase atual da umbandização do culto, o que significa, nessa dinâmica, a sua permanência enquanto expressão de grupos sociais subalternos. Mais que isso, no plano ritualístico significa resistência aos modelos de opressão socioeconômica, contribuindo em última instância para a manutenção de um referencial étnico e identitário, sejam nas comunidades indígenas ou nas religiões afro-brasileiras.
Fotografias (3ª e 4ª) de assentamentos no quarto de Jurema.
Ilê Axé Iaominlaiô Ogumxá 
Responsável: Marcone Correa Lins
Loteamento José Sarney – Natal/RN
(Fragmentos do texto publicado na Revista História Viva, vol. 6 – Cultos Afro. São Paulo: Ediouro, 2007).


Mão de Vumbe


Mão de Vumbe ou Mão de Nvumbe ou tirar mão de Vumbi, Maku Nvumbi, significa fazer a cerimónia para tirar a mão do falecido, e é realizada um ano após o Ntambi (a cerimónia fúnebre).
Esta cerimónia é necessária e apenas realizada nas pessoas que foram iniciadas pela pessoa que morreu, ou seja, na prática é tirar a mão do morto. É importante notar que não se aplica portanto a simples frequentadores, ou Abiãs da casa.
Quando uma pessoa é iniciada por um pai ou mãe-de-santo, passa a ter um vínculo espiritual, a mão da pessoa em sua cabeça, a mão que transmitiu o axé.
Assim, quando o pai ou mãe-de-santo morre é necessário tirar a mão do morto, essa cerimónia é feita por outro pai ou mãe-de-santo escolhido pela pessoa.
A realização desta cerimónia é importante pois permite que o iniciado possa assumir em pleno e dar continuidade à sua evolução em uma outra casa de santo.
A palavra Vumbe é usada no Candomblé Bantu de nações Angola e Congo, o significado é o mesmo que tirar a mão do Egum usada no Candomblé Ketu.

O Teste de Ifá.

Apresentamos uma pequena parabola sobre Òrúnmìlá e Esù, uma delicia de leitura que ajudará a enriquecer nossa cultura.
Esú, com sua extrema curiosidade, vivia a andar pela Terra, tentando descobrir todos os segredos e mistérios que existiam no planeta. Em nome desta ânsia do saber, pediu a seu irmão gêmeo, Ogun, que cuidasse de sua tribo, este, no entanto, recusou-se, argumentando que também não dava a devida atenção a sua própria tribo. Por fim os dois deixaram suas tribos sob os cuidados de sua mãe, Yemojá, pois ela sempre dava atenção a quem quer que fosse… O sol estava no ponto mais alto do céu, fustigando a vegetação, enquanto uma leve e quente brisa soprava o cheiro da mata quase seca. A cada passo, Esù podia sentir o chão seco e a poeira colar em seus calcanhares suados, enquanto pensava em que caminho tomaria, para encontrar algo que saciasse sua sede de conhecimento. Embora parecesse absorto em suas divagações, estava sempre alerta a tudo o que acontecia a sua volta, tanto que podia ouvir o bater das asas de uma borboleta, ou o abrir e fechar dos olhos de um macaco à longa distância e distinguir os sons de tal forma, que podia prestar a atenção a tudo. Devido a esta sua capacidade, todos o comparavam ao vento, dizendo que ele estava em todos os lugares. Com sua apurada audição, ele sentiu a aproximação de uma desembestada manada de rinocerontes ao longe. Isto se transformou em uma distração, pois acompanhava com os olhos a corrida desorientada dos bichos que, por onde passavam, espantavam pássaros, derrubavam árvores e atropelavam outros animais. De repente a manada virou-se em sua direção e ele, sem querer influir no arbítrio dos rinocerontes, decidiu sair de seu caminho. Num salto rápido alcançou o topo de uma grande pedra que estava ali perto, saindo da frente dos animais que levantaram uma imensa nuvem de poeira, que o deixaram sem visão por um instante. Do alto da rocha, assim que se dissipou a nuvem poeirenta, ele divisou ao longe, na vasta savana, um ancião deitado à sombra de um arbusto, parecendo estar dormindo, dada sua inércia. Não precisou pensar muito para ver que a manada estava na direção do pobre velho, que poderia machucar-se muito. Vendo aquilo, Esù sentiu-se condoído, não lhe agradava a idéia de que alguém pudesse ter um fim tão trágico. Tentando alertar o ancião, juntou todo o ar que seu pulmão pudesse suportar e gritou. No entanto o velho nem sequer se mexeu. Sem atinar se o barulho da manada abafara o seu berro, pensou que o homem pudesse estar ali desmaiado ou doente. Esù sentiu em seu ser que deveria ajudá-lo. Usando de sua fantástica velocidade, ele correu pela savana e, quando alcançou a manada, pulou e andou por sobre o lombo dos rinocerontes num malabarismo fantástico, vencendo um a um. Como tinha o poder de encantar qualquer animal, destemido, ele pulou à frente da manada, tomou uma distância segura, ergueu as mãos ao céu num gesto magistral e exalou todo seu poder. Um a um os animais paravam, deitavam-se e caiam em um profundo sono. Toda savana testemunhou um inesquecível espetáculo, tendo como produto final, o que parecia ser um imenso tapete de rinocerontes. Tal foi à força do encanto, que fez calar tudo ao redor, se uma mosca houvera passado por ali, com certeza caíra desfalecida pelo chão árido. Depois de afastar o perigo, Esù, cansado pelo grande desprendimento de energia, virou-se e andou em direção ao ancião para ver o que acontecera. Quando estava chegando perto, pôde ver o velho levantar-se, tirando o pó das rotas vestes. Era um ser curvado de movimentos lentos, que se apoiava num carcomido cajado. Com os olhos quase cobertos pelas pálpebras, fitou seu benfeitor com candura e um sorriso trêmulo, curvando-se em sinal de agradecimento. O viril pensou que era algum tribal que fora abandonado à sorte pelos seus patrícios. Curioso Esù indignado indagou: – Quem é você? O que faz aí, bem à frente de uma desembestada manada preste a ser demolido por completo? – Quer saber quem sou? Perguntou o velho sorridente, mostrando apenas dois dentes na boca e caiu no chão sobre si, cobrindo-se com seus trapos, parecendo querer esconder-se. De repente, uma imensa luz despedaçou os trapos como se fossem de vidro. Neste momento surgiu à frente de Esù um ser que brilhava como o Sol, que chegou a ofuscar seus os olhos de fogo. Quando se acostumou com o brilho, ele viu que se tratava de Ifá, um ser de luz, enviado de Olodumarè na Terra, encarregado de ouvir a todos aqueles que buscam ajuda, detentor de segredos e dos mistérios. Perplexo, Esù perguntou. – O que aconteceu, para você, um òrìsá, materializado como um velho, estar caído à sombra de um arbusto, esperando ser pisoteado pelos rinocerontes – neste momento Esù percebeu que não estava na savana, mas numa floresta à beira de um rio, o ar era úmido e com um maravilhoso cheiro de verde. O carcomido cajado cintilava e tinha na ponta uma reluzente bola de cristal, que rodava sem parar em volta de seu próprio eixo, ela era como a íris do grande olho que se formou no ponto mais alto do cajado. Ifá com voz solene, que parecia ecoar pela floresta, pacientemente explicou: – Isto tudo se tratava de um teste, pois, entre os òrìsás corre a história de que você não era capaz de ajudar ninguém, sem querer algo em troca, uma vez que só pensava em si mesmo e em suas descobertas. Mas vejo que todos estão errados e hoje vi com meus próprios olhos que a bondade pode ser despertada em você, uma vez que correu em auxílio de um velho pobre e aparentemente sem nada para dar em troca. Frente a isto, quero lhe propor o seguinte: como sei da sua curiosidade, eu lhe darei um modo de saber o presente, o passado e o futuro – Ifá debruçou-se sobre o rio, pegou dentre as águas um punhado de conchas e prosseguiu – tome, estes são meus olhos, dou-lhe estes búzios, um jogo através do qual saberá tudo o que ocorre pelas tribos, com a condição de ajudar a todos que precisem de seu auxílio. – Eu aceito seu presente. Esù pegou das mãos de Ifá as conchas, enquanto as duas bolas de fogo, seus olhos, brilhavam como nunca, parecendo estarem hipnotizados e continuou – embora não possa afirmar que correrei atrás de ninguém para ajudar, prometo auxiliar a todos que a mim vierem. Assim que terminou de falar, ele levantou os olhos e não viu nem floresta com rio, nem o ser de luz, que havia desaparecido como se tivesse evaporado no ar, encontrava-se à sombra de um arbusto no meio da seca savana. Esù sentiu um misto de êxtase e torpor, ao constatar que seu esforço não fora em vão e ao ver que um sentimento tão simples pudesse lhe render tão precioso presente. Essas sensações cruzaram com ele todo o caminho de volta para sua gruta, onde guardou e sempre consultava seu jogo, para saber os acontecimentos e fofocas de todas as tribos, procurando manter em segredo seu valioso presente.

O Candomblé


No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O branco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.
Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare.
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.
Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas, como as pintas das penas da conquém, como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com jóias e coroas.
ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, e estavamodara.
As iaôs eram as noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.
Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé.

ORI



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Ori é o deus portador da individualidade de cada ser humano. Representa o mais íntimo de cada um, o inconsciente, o próprio sopro de vida em sua particularização para cada pessoa. Ori mora dentro das cabeças humanas, tornando cada um aquilo que é.
Como ao morrer, a cabeça de uma pessoa não é separada para o enterro, Ori é conhecido como aquele que pode fazer a grande viagem sem retorno, pois os outros orixás, mesmo quando morrem seus filhos, são libertados da cabeça (Ori) e retornam ao Orun (céu, ou mundo exterior).
À cerimónia de equilíbrio do Ori dá-se o nome de Bori (bo = oferenda, ori = cabeça => dar oferenda para a cabeça, fortalece-la). Não se deve no entanto confundir Bori com Iniciação. O Bori pode ser feito em qualquer momento e não implica qualquer vínculo com o Orixá ou com a casa.
Durante o processo iniciático a primeira entidade a ser equilibrada é justamente o Ori, a individualidade pessoal, para que a pessoa não se transforme num mero espelho do orixá.
Um dos mitos sobre Ori diz que ele pode depois de enterrado voltar ao Orum, levado por Nanã ou Ewá. Diz este mito que um dia Ori percebeu que era o momento de nascer outra vez e foi falar com Olorum, o Universo, solicitando permissão para nascer na mesma família em que havia nascido antes. Olorum permitiu, com a condição de que apenas ele, Olorum, pudesse conhecer o dia de sua morte, sem que Ori pudesse opinar sobre esta questão e que o destino de Ori só pudesse ser mudado quando Ifá fosse consultado.
Este orixá não tem características estéticas pois não incorpora. Apenas é cultuado juntamente com os orixás, possuindo um número no jogo de búzios onde “fala”.
A quizila de Ori é a mentira.


Atiwaye Ojo: Origem dos Dias



Por: Araba Ifayemi Elebuibon
Ojo é a palavra iorubá para dia.
A religião dos iorubas do sudoeste Nigreia é o òrìsá.
A palavra “òrìsá” significa “aqueles cujas cabeças foram criadas, os maiores e superiores desde então.”
Cada uma dessas divindades são os ministros de Deus (Olodumare) e a palavra do Deus Todo-Poderoso.
Eles são chamados de òrìsá (Eni ti ori sa da).
No começo, os seres humanos não tinham nomes para os dias.
Era Obatalá (divindade do arco, Deus da Criatividade), que foi a Olodumaré para obter os dias da semana para todo o resto dos òrìsá.
Foi Òrúnmìlá, quem estabeleceu os dias, daí um dos Odus recitou:
Ifa loni oni
Ifa loni ola
Ifa loni ojo mereerin Oosada
É Ifa quem possui o hoje
É Ifá quem possui o amanhã
É Ifá quem possui os quarto dia que òrìsá fez na Terra.
Em um parágrafo de um oriki de Obatalá uma de suas filhas perguntou:
Podemos saber o nome dos dias?
Obatalá diz:
Tire um dia da semana para Òrìsáala
Escolha um outro dia para Ogun
Faça um outro dia para Jakuta (Sango)
O dia restante é do Awo (Òrúnmìlá) ou dia do Segredo.
Foram apenas quatro dias que Obatalá trouxe do òrun para o mundo com as 401 divindades.
Obatalá distribuiu os dias entre os outros òrìsá, Ogun, Sango e Ifá, enquanto ele escolheu um dia para si.
O resto dos Òrìsá, por conseguinte, tinham que partilhar os outros dias, por exemplo:
O dia da semana (Ose Ifa) é o mesmo dia para Osun.
Obatalá divide seu dia com Egungun (espíritos ancestrais), Aje, Ìyàmi, Elegbara e etc.
Cinco dias é a semana do calendário tradicional dos iorubás, não contando o primeiro dia, você tem quatro dias.
Vinte e nove dias faz um mês. que é quando a lua está cheia.
A lua passa quinze dias sobre a terra e quinze dias no céu.
A semana de sete dias.
Ojo Aje (segunda-feira) – é o dia em que o dinheiro entrou com o òrìsá na terra e é conhecido como o dia do dinheiro. Os Iorubás usam esse dia para iniciar negócios e discutir programas econômicos e sociais.
Ojo Isegun (terça-feira) – É o dia da vitória. Este é o dia em que  todas as forças do mal estão dominadas. É um bom dia para começar qualquer coisa que leve a uma melhor qualidade de vida.
Ojoru (Quarta) – É o dia que o problema entrou no mundo. É o dia de confusão.
Ojoba (Quinta) – É o dia em que os nomes dos dias chegaram.
É um dia em que os Antepassados visitam a família.
É por isso que cada festival importante (Oro Órìsá) começa na quinta-feira, Ojobo.
Ojo eti (sexta-feira) – É o dia do adiamento.
Acredita-se que tudo o que as pessoas tenham que fazer neste dia deve ser adiado ou então ele seria um fracasso.
É por isso que as viagens de negócios  não começam neste dia.
Abameta (Sábado) – Viés talvez os mesmos atributos de Ojo Eti.
A fim de evitar três tipos de incidentes negativos, os iorubas não usam o sábado para enterrar uma pessoa, a menos que a pessoa seja um ancião.
Ojo Oiku (domingo) – Ojo Ariku também conhecidas como Ojo Isinmi é o dia do descanso é o dia que Òrúnmìlá enterrou Imi, a mãe de Esu Odara.
(veja As Aventuras de Obatalá Vol 1. Yemi Elebuibon para mais informações). Neste dia as pessoas do mundo solicitaram imortalidade (aiku) a Olodumaré. Òrúmìlá, um confidente de Olodumarè se recusou a fazer propiciação, ele era incapaz de trazer a imortalidade (aiku) para todos os habitantes da Terra, então as pessoas tiveram que morrer.
Neste dia não foi concedido a imortalidade ao povo.
Felizmente, a morte prematura pode ser prevenida fazendo sacrificio e usando a medicina de Ifá.

O culto a Egungun- parte 3



Oyá, Egun e os Mitos.
“Oyá não podia ter filhos e foi consultar um babalawo. Este lhe disse então, que, se fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era porque ela não respeitava o seu tabu alimentar (eewó) que proibia comer carne de carneiro.
O sacrifício seria de 18.000 búzios ( pagamento), muito panos coloridos e carne de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio para que ela o comesse; e nunca mais ela deveria comer dessa carne. Quanto aos panos, deveriam ser entregues como oferenda”.
Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz a nove filhos (número mítico de Oyá). Daí em diante ela passou a ser conhecida peo nome de “Iyá omo mésan”, que quer dizer mãe de nove filhos e que aglutina Yansán.
Filhos de Oyá:Imalegã; Iorugã; Akugã; Urugã; Omorugã; Demó; Reigá; Heigá; Egun Egun. Cada um tem sua característica e seu fundamento próprio, são representados no ojubó de Oyá Igbalé.
Há outra lenda para explicar o mito de Iyansã:
“Em certa época, as mulheres eram relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os em demasia”.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniam na floresta.Oyá havia domado e treinado um macaco marrom chamado`Íjímeré (na Nigéria). Utilizara para isso um galho de atorí (ixan) e o vestia com uma roupa feita com várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos.
Seguindo o ritual, conforme Oyá brandia o ixan no solo o macaco pulava de uma árvore e aparecia de forma lucinante, movimentando-se como fora ensinado a fazer. Desse modo, durante a noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres ( que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados.
Cansados de tanta humilhação, os homens foram ver um babalawo para tentar descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as mulheres o babalawo lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres através de sacrifícios e astúcia.
Ogun foi encarregado da missão. Ele chegou a local das aparições antes das mulheres.vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se escondeu, quando as mulheres chegaram, ele se apresentou subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas figiram apavoradas, inclusive Oyá.
Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto a Egun. Hoje eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim, eles redem homenagen a Oyá Igbalé, tida até como criadora do culto a Egungun e sendo idolatrada como mãe e rainha dos Eguns.
E, como explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão íntimamente ligados ao culto, inclusive com relação a voz do macaco como é o modo de Egun falar.
Pesquisa: revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

O culto a Egungun- parte 2



O Salão e a Festa
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir vivos com mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e previlegiadas mulheres que saõ exceção, como se fossem a própria Oyá. Elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente Oyê no culto de Egun. Essas mulheres zelam pelo culto fora dos mistérios, ajudam na confecção de roupas, matem a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas tem o direito de cantar para os Babás.
Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvou aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com outras mulheres. Elas funcionan como um elo entre os atokuns e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os babás, seu jeito e suas manias e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado sagrado é o mundo de Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixans que os amuixan colocam estratégicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica do ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Às vezes, os mariwos são obrigados a segurar o Egun com um ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cântigos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branco. Portará um osê (machado de lãmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o rítmo preferido de Xangô e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e hesitantemente marcadas pelos Oyês femininos, que também responderão aos cântigos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias cantigas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com fiéis, falará em um possível Yorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. babá Egun começará perguntando pelos fiéis mais frequentes principalmente pelos Oyês femininos, depois pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegarem pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselha-los e protegê-los, mantendo assim a morale a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como um verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa terminae a porta pricipal é aberta; o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidade de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos yorubanos da Nigéria.
Pesquisa: Revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

O Culto a Egungun



O Rito
Nas festas de Egungun, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Egunguns entram no salão através de uma uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo. Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários Amuixan (iniciados que portam o Ixan) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojês saim do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão chamada de Ilê Awo (casa do segredo), na Bahia, e Igbo Igbalé (bosque na floresta) na Nigéria. O Ilê Awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os Ojés podem entrar, e o Lêsànyin ou Balé, onde só os Ojês Agbá entram.
Oiê balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos – estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egun ali cultuado, e, o Ojubó-Babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários Ixans, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos Ojubós são colocados oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egun a ser cultuado ou invocado. No Ilê Awo também está o assentamento da divindade Oyá de culto Igbalé, Oyá Igbalé como é popularmente conhecida, a única divindade feminina venerada e cultuada simultâneamente pelos adeptos e pelos próprios Eguns.
No balé os Ojés atokutun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu assentamento, e é neste local que o awo (segredo)- o poder e o axé e Egun nasce através do conjunto Ojé-ixan/Idi-ojubó.A Roupa é preenchida e Egun se torna visível aos olhos humanos. Após saírem do Ilê Awo, os Eguns são conduzidos pelos amuixan até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojés, pelo som dos amuixan, branindo os ixans pelo chão e aos gritos de saudação dos alabês (tocadores e cantadores de Egun). O clima é realmente perfeito.
Pesquisa:Revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.


Perfil – Mãe Simplícia de Ògún.


Mãe Simplícia, uma guerreira!!!
Na época, em que Mãe Simplícia esteva à frente da Casa de Òsùmàrè, Getúlio Vargas já havia editado o Decreto-Lei 1.202, no qual ficava proibido o embargo sobre o exercício da religião do candomblé no Brasil. A partir da edição deste decreto-lei, cultuar os Òrìsà deixou de ser considerada atividade criminosa. Aos Africanos e afrodescendentes ficou assegurado o direito à liberdade de professarem sua fé.
Mas, infelizmente, não foi bem assim. A repressão e intolerância ao candomblé, em verdade havia se organizado. Para realizar as cerimônias religiosas, os rreiros precisavam pedir autorização e requerer um alvará de funcionamento na Delegacia de Jogos e Costumes, pagando taxas impostas para expedição deste documento.
O alvará de nada adiantava, não oferecia nenhum tipo de proteção, os terreiros continuaram a ser invadidos pela polícia que se tornava cada vez mais violenta. Os praticantes do candomblé continuaram a receber ordem de prisão, sofriam as mais diversas formas de intimidação, a citar como exemplo: autuados eram obrigados a carregar os seus atabaques na cabeça e caminhar até a delegacia.
Embora a Casa de Òsùmàrè já não fosse mais vítima dessas tais batidas policiais, Mãe Simplícia continuava indignada com o sofrimento dos povos de religiões de matrizes africanas, e tomou para si esta luta. E assim, começou sua jornada em defesa da liberdade religiosa.
Neste sentido, seu primeiro passo aconteceu em 1952, no inicio de sua gestão na Casa de Òsùmàrè. O carisma que lhe distinguia proporcionava manter relações influentes. Assim, tomou conhecimento que o presidente Getúlio Vargas, juntamente com o governador Régis Pacheco, o senador Assis Chateubriand, o vice-presidente Café Filho iriam inaugurar o Grande Hotel Caldas do Cipó, no sertão da Bahia. Diante desta informação, articulou-se para realizar a recepção para o presidente e sua comitiva, com o intuito de denunciar a releitura da inquisição contra o Candomblé promovido pela polícia baiana da época.
Nesta recepção, realizada aos 24 junho de 1952, Mãe Simplícia conseguiu a esperada conversa com o presidente e denunciou os horrores que os povos de religiões de matrizes africanas ainda sofriam, reivindicando, assim, os direitos de liberação dos cultos, conforme o decreto por ele sancionado. Uma ação que contribuiu para mudar o cenario vivido na epoca pelo povo de santo.
Mãe Simplícia de Ogun, Simpliciana da Encarnação, Ogun Dekisi, (1922 – 1967), era filha carnal de Maria das Neves da Conceição (Oyá Biyi), foi Iyalorixá do Candomblé Ilê Axé Oxumarê no local antigamente chamado de Mata Escura, bairro da Federação, Salvador, Bahia.
Em 1936 aos 14 anos foi iniciada por Mãe Cotinha de Yewá que depois se tornou sua cunhada por seu casamento com Hilário Bispo dos Santos (Vovô Hilário), irmão de Mãe Cotinha.
Em 1954 aos 38 anos com o falecimento de Mãe Francelina de Ogun, tomou posse como Iyalorixá da Casa de Oxumarê.
Teve cinco filhos: Jutaí Bispo dos Santos, Tânia Maria Bispo da Encarnação, Nilton Bispo dos Santos, Nilzete Austriquiliano da Encarnação e Erenilton Bispo dos Santos, todos iniciados na Casa de Oxumarê.
Descendentes de Mãe Simplícia
Iniciou quarenta e quatro Yawôs: Filhinha de Ogun (Dofona Deusuíta), Leonor de Oxumarê, Elza de Oxóssi, Ana de Ogun, Walquiria de Oxum, Nilza de Ogun, Dó de Ossayin, Cotinha de Oxalá, Deusuíta de Omulu, Pai Pérsio de Xangô, Ana Laura de Ogun, Duzinha de Nanã, Bentinha de Ogun, Rosinha de Obaluaiyê, Zezé de Obaluaiyê, Doroti de Yansan, Ekeji Angelina de Oxóssi.
Casa de Oxumarê.

Ìyáàmi Awo – As Mães do Segredo.


Ajé  Ògúgúlùsò  Aiye Olámbó yèyé.
Ibá awon  Ìyáàmi,
Èìswù Alágogo haguná to p’oní ma.
Tradução:
Homenagem ao Espírito da riqueza e boa sorte, a honra vem da Mãe Terra.
Eu saúdo todas as Mães Sábias.
O Pássaro branco de poder é a fonte de seu medicamento.
Comentário:
O simbolismo em Ifá, é uma expressão da dinâmica e da forma, que ocorrem na natureza.
É uma tentativa de explicar as maneiras pelas quais as forças invisíveis da natureza afetam o universo visível.
Todos os aspectos de Ifá, suas história sagrada, simbolismos e rituais expressam a polaridade entre as forças de expansão e contração, que são as expressões fundamentais do poder na Natureza.
Em termos simplificados, essa polaridade é expressa na relação entre Òrìsà feminino e o masculino.
Dentro da estrutura sócio-religiosa, política da religião de Ifá, essa polaridade é expressa através de uma série de ordens religiosas específicas quanto ao sexo.
Destaque entre essas ordens religiosas que honra o poder feminino são as Ìyáàmi awo.
É comum para os antropólogos descrever esta sociedade como ” as bruxas”.
O significado original de “bruxa” da cultura européia é: “Mulher sábia”.
No entanto, o termo tende a ser pejorativo no uso contemporâneo ocidental.
Mulheres Ìyáàmi awo preservam ou estam associadas aos mistérios da menstruação.
Parece absurdo atribuir qualquer conotação negativa a esta tradição sagrada, porque o mistério da menstruação é a fonte da vida na Terra.
Literalmente, falando a verdade, cada ancestral, mesmo os divinizados, ou não que já viveram, vieram à Terra através do útero de uma mulher, tarefa esta, possibilitada pelas Ìyáàmi.
 Por: Awo Fatunmbi.

Religião Africana



Religião africana



A religião africana veio para o Brasil quando os primeiros escravos aqui chegaram, apesar de serem de diferentes regiões da África, muitas vezes de tribos rivais, os escravos negros trouxeram consigo suas culturas, e ao serem misturados nas senzalas, eles reuniam seus conhecimentos e formaram a capoeira e formações religiosas como o Candomblé.
O candomblé cultua os Orixás, que são diferentes Deuses que regem diferentes coisas, com diferentes personalidades:
Oxalá – Pai de todos os Orixás;
Exu – Senhor dos Caminhos;
Ibeji – Gêmeos que protegem as famílias e as crianças;
Ogum – orixá Guerreiro;
Nanã – Mãe de Obaluaiê e Oxumaré, protetora dos doentes;
Oxossi – Orixá caçador, protetor dos caçadores, da mata e dos animais;
Iemanjá – Considerada por muitos como rainha dos mares e mãe de todos os Orixás ao lado de Oxalá, representa harmonia na família;
Ossaim – Orixá das plantas em geral, principalmente das ervas medicinais;
Obá – Representa o equilíbrio, justiça, uma das esposas de Xangô;
Obaluaiê – (Omolu, em sua forma velha). Conhece a cura de todos os males, por ser o deus das Pestes;
Logun-Edé – Responsável pelos leitos de mares e rios, filho de Oxum com Oxossi;
Oxumaré – Protetor das grávidas, Orixá da fortuna e da sorte;
Iansã – Senhora das tempestades, dos raios e dos ventos, Orixá guerreira;
Ewá – Rainha da magia, representa as chuvas;
Oxum – Rainha do ouro, do amor e de todas as águas doces;
Xangô – Orixá da Justiça.

Será que nós realmente compreendemos a natureza das Ajé na Tradição religiosa de Ifá?


O que é Ajé?
Na tradição religiosa de Ifá no oeste africano, um dos temas mais difíceis é entender nosso comportamento, nosso caráter e como tudo isto se relaciona com nossas crenças pessoais e quando usamos as tremendas forças que vêm seguindo este caminho espiritual.
Certamente não são as palavras faladas em fóruns públicos de orações, invocações e encantamentos, mas o comportamento problemático que vem de adorar uma tradição que é essencialmente metafísica, imaterial, sobrenatural e sobretudo, mística. Quando alguns desses seguidores inseguros da Tradição estão com medo e às vezes são muito limitados espiritual, emocional ou até mesmo falta a base necessária que lhes permita aprofundar-se na sabedoria interior e no código de Ifá.
Devido a isso, há comportamentos morais que devem ser observados, para que possamos ter ordem dentro de nossas fileiras como sacerdotes e mais seguramente com os nossos devotos.
O versículo di Odu Ifa (ese Ifa) Odi Meji canta para nós, esta parte:
Odi Meji
Grande massa (uma montanha) de terra no final da estrada.
Àse infinito.
Ifá foi consultado para Ìyàmi Òsoròngá.
Quando Elas estavam vindo do céu para o mundo,
Eles disseram, Elas estavam vindo para o mundo
Eles, então, chamaram Òrúnmìlá para vir do òrun
Olodumare deu a Òrúnmìlá permissão para vir,
Òrúnmìlá partiu
No local onde ele estava para partir, ele descansou em uma muralha de pedra de Òrìsá Nla
Ele conheceu Ìyàmi no percurso
Òrúnmìlá disse, “Onde você vai?”
Elas disseram, estamos indo para a Terra.
Ele disse, o que vocês vão fazer lá?
Elas disseram, aqueles que não serão nossos cúmplices, vamos atormentá-los.
Vamos saqueá-los.
Vamos trazer a doença para seus corpos.
Vamos trazer fraqueza a seus corpos.
Vamos tirar os seus intestinos.
Vamos comer seus fígados.
Vamos beber seu sangue.
Nós não vamos ouvir a voz de qualquer pessoa na Terra.
Òrúnmìlá disse: Ha!
Ele disse que seus filhos estavam na Terra.
Elas disseram que não conheciam os filhos de ninguém.
Òrúnmìlá disse, meus filhos estão na Terra.
Elas disseram muito bem, então.
Elas disseram que Òrúnmìlá deveria falar com seus filhos …
Primeiro para qualificar este artigo para o Ile Òrúnmìlá Mimo Iwosan Boletim interno do Templo de janeiro de 2008, queremos esclarecer que o título deste artigo reflete a nossa reverência e obediência ao Awon Ìyàmi Osoronga (A Grande Mãe e Misteriosa), Yewajobi (Mãe de todos os Òrìsá e todas as coisas vivas), todas as grandes mães que fazem as coisas acontecer, Agbalaagba (Um velho e sábio).
Com essas denominações conhecidas como: Saúdo a Terra e Cosmos.
As mães que merecem o “respeito”, há muito tempo esquecido por seus filhos. 
O que é Ajé?
Aqui, fora no templo, tentamos fortemente não usar o certos palavreados sobre as Ajé  “que traz sobre ela a feia imagem, com a conotação ocidental de uma mulher com visual velho, com vassoura, fazendo obras más contra a humanidade.”
O envelhecimento é belo, a força das mulheres e seu poder é incrível e cura.
Esta imagem negativa tem permeado a sociedade mundial da web, criando influência negativa e confluência contra as mulheres que são fortes e tem poder.
No entanto, o ponto e a ênfase deste post não é apenas para corrigir esta imagem, mas também para lidar com o mau uso do poder nas mãos daquelas que são mentalmente e espiritualmente despreparadas para lidar com este tipo de energia maravilhosa e poderosa.
Isto inclui as forças do nosso Pai da Noite e todos os outros espíritos que podem ser usados para o mais escuro dos atos contra a humanidade.
Forças e entidades que foram concebidas para equilibrar as energias do mal nós, seres humanos usamos para cometer atos falhos no mundo.
Também no início do Oriki de Odi Meji você será introduzido pela primeira vez no conhecimento da relação forte e simbiótica entre Ìyà mi Osoronga e Òrúnmìlá.
Muitas vezes, ouvimos dentro da comunidade de Ifá e adoradores de òrìsá,  que agora, as pessoas estão jogando bruxaria em seus inimigos, ou cometendo atos desprezíveis, por vezes, muitos com forte violência espiritual contra os outros, por vezes, é feito também nas comunidades do mundo.
São pessoas que não estão relacionadas com a nossa tradição religiosa.
Os atos inomináveis de coisas que elas querem que os outros façam, nas questões de controle, de ciúme, de ódio, de amargura, que as tirem da solidão, dos problemas de auto-estima, dos problemas de saúde mental, é o zelo fora do controle, são comportamentos e pensamentos que não deixam a gente entender “os princípios da Ifá” .
Muitas pessoas na realização de tais atos hediondos e formas nefasta de pensamento, não entendem o terreno espiritual e o que isso realmente implica. Podem até mesmo ver os espíritos que estão de ilusionismo, meditando, invocando ou simplesmente enviando para outra casa, corpo ou espírito.
Estão infligindo normas, têem pensamentos perigosos sobre pessoas que podem ser inocentes ou aquelas cujas capacidades ou karma podem, na verdade igualar o sucesso delas.
Às vezes as pessoas, incluindo alguns adivinhos, fazem e não na ignorância entender que nem todas as energias negativas são aquelas enviadas por nossas mães e pais da Noite, mas pode ser um espírito Egbe trazendo calamidade para uma pessoa que não vem através das promessas feitas ao céu.
Ou pode ser “a mãe acionada pela loucura própria de uma pessoa, trazendo a loucura para seus comportamentos aberrantes, porque elas se recusaram a acatar as lições dadas por Olodumare através de Ifá de boa conduta e bondade adequada em suas vidas.”
Elas mentem para si mesmos e encobrem seus mais íntimos pensamentos, não percebendo que Esu é o operador que liga padrões do pensamento com o Orí, e que o próprio pensamento é uma energia facilmente vista em testes intricados com padrões dentro do universo interior e exterior.
Há até momentos em que as energias do òrìsá podem ser vista defendendo a posição  daquelas pessoas que são afetadas por ajogun, essas forças, estão em uma posição negativa quando elas também violarão o espaço sagrado do outro.
A responsabilidade de todos os adoradores de Ifá / òrìsá, sacerdotes e aleyo equivale a essa idéia, de entender as forças com que se está lidando, deve-se estar consciente da tremenda força de destruição que está nas mãos destas pessoas que querem usar o negativo e o mal sobre os outros, sem serem provocados, tudo fruto de suas próprias inseguranças, ódio e muito mais.
O que é Ajé?
Para um exemplo claro disso:
A “pessoa” quer uma ‘outra pessoa’ tenha uma morte física, desejando ou paganso um sacerdote nefasto para enviar todas as formas de mal, porque ela foi desprezada verbalmente por esta pessoa.
A timidez desta ação é que o crime não vale a pena da punição extrema.
Em vez da pessoa ter a coragem de falar de suas preocupações ou irritabilidade com o outro, elas preferem que esta pessoa ou seus familiares tenham uma morte horrível, apenas para satisfazer seu senso de justiça.
Outro cenário é você querer um homem ou uma mulher para você; uma uma pessoa casada e você está disposta a separar, a destruir sua família, através de meios metafísicos, enviando espíritos malignos, usando charme para seduzir, quebrar, ou simplesmente causar problemas em sua vida até que esteja de acordo com sua vontade.
Existem aquelas ocasiões, em que uma pessoa teve sua vida perturbada por essas forças errantes e um adivinho qualificado foi necessário para  endireitar a situação da sua vida.
A ideia, ainda diz que as ações dessas pessoas, fará por todos os meios necessários trazer dor, danos e ferir a qualquer um por causa de sua mentalidade pequena, é uma tragédia diante dos olhos de Olodumare.
Quando essas forças são invocadas no mundo, é verdadeiramente uma abominação diante dos anciãos do òrun (Céu) e no tempo certo o pagamento, chegará como uma visita terrível, porque a pessoa ou pessoas que usaram este mecanismo para quebrar outro vai ou interferir na vida dos outros violou o princípio sagrado de Olodumare.
(continuação)
Odi meji diz:
Elas construíram um tribunal atrás.
Elas construíram uma câmara.
Elas disseram, este é o lugar onde poderam se reunir.
Elas empilharam um monte enorme, em que as Eleiyes poderiam se  reunir.
Quando elas se reuniram.
Quando chegaram na Terra.
Elas enviaram dores de estômago as crianças.
Elas mandaram a doença para crianças.
Elas tiraram os intestinos das pessoas.
Elas bebiam o sangue das pessoas.
Elas enviaram dores de cabeça a mais crianças.
Elas mandaram a doença de uma criança para outra.
Elas enviaram reumatismo de uma criança para outra.
Elas enviaram dores de cabeça, de estômago ruim e febre de uma criança para outra
Elas causaram o estômago inchado da grávida para prejudicar.
Elas levaram o feto de quem não era estéril.
Elas não permitiam que qualquer mulher engravidasse.
Aquelas que já estavam grávidas, foram impedidas de dar à luz.
As pessoas passaram a implorar aos filhos (Awo) de Òrúnmìlá.
Elas pediram aos filhos de Òrúnmìlá para ajudá-las.
Eles iriam ajudar, aquelas que estavam grávidas.
O sacrifício que Òrúnmìlá disse a seus filhos para realizarem neste dia
Seus filhos haviam feito.
O que é Ajé?
As atitudes dos nossos seguidores para com o uso da feitiçaria, como um meio para arbitrar questões, que poderiam ser prontamente comunicadas através do desenvolvimento das habilidades comunicativas e interpessoais ou por meio da orientação de Ifá ou Òrìsá e em alguns casos, um atendimento profissional de saúde mental.
No entanto, quando optamos por utilizar meios nefastos para saciar nossas vontades e desejos ou conseguimos usar essas metodologias negativas, abre-se a porta para a guerra que pode terminar em tragédia e nos casos mais extremos, até mesmo em morte.
É importante para nós aprender a concordar ou discordar, ao ver o verso de Odi Meji ele fala sobre:
“Como Òrúnmìlá acalmou as Ìyàmi Òsoròngá “, pois quando convidamos essas forças, trazendo-as para o mundo do mal, o mal mesmo, pode ser destinado ao remetente.
Nós realmente temos que perguntar a nós mesmos sobre a qualidade e o estado de espírito de uma pessoa, se ela quer a morte de alguém, simplesmente por que uma  pessoa pisou no seu pé.
Ou se cada vez que há um desastre natural do mundo infelizmente, nós podemos estar em conveniência com as tempestades convergentes? “.
“Esta tempestade pode ter sido enviada pelo òrìsá contra seus inimigos conhecidos ou invisíveis? “
Se o pai, o filho, ou um amigo íntimo de seu inimigo, tem uma doença, então o seu òrìsá vingará o seu ego ferido por infligir dor enorme em outro?
Então nós realmente precisamos olhar para esta pessoa que as enviou de várias maneiras, porque ela quer a morte, a doença, a perda de emprego, a perda da sua casa ou mais.
Simplesmente porque você tem pouca ou nenhuma coragem e também falta de estima.
Talvez haja um problema sério de saúde mental, existe preocupação e necessidade de olhar seriamente como você processa a sua raiva, ou melhor ainda, a sua mágoa e sua dor.
É lamentável e muito triste que encontremos nossa vida em falta, por que você preferiria ver o dano causado a outro ser vivo, do que encontrar maneiras através de Ifá / òrìsá para encontrar uma solução para seus problemas ou mesmo olhar para dentro do seu próprio espírito e procurar uma resposta.
A paz ainda ainda não chegou.
Aqui em Odi Meji está o nosso chamado e canto para acalmar as forças que foram invocadas, quando nossas mães foram incomodadas desnecessariamente, como também devemos pedir perdão as energias das mulheres que foram traídas quando inadequadamente invocamos essa força para o mal de outras mulheres e suas famílias.
Mais uma vez temos de encontrar melhores formas de comunicação com nossos desejos e aprender a não atingir outro ser humano quando não podemos controlar nossos nossos desejos. 
Odi Meji
Elas precisam gostar deste canto.
Pequena Mãe você conhecerá a minha voz
Ìyàmi Osoronga (Grande Mãe e Misteriosa) cada palavra que eu falar.
A folha ogbó disse que você vai entender absolutamente.
Ìyàmi Osoronga você vai conhecer a minha voz.
Ìyàmi Osoronga a cabaça diz que você vai levá-la.
Ìyàmi Osoronga você vai conhecer a minha voz.
Ìyàmi Osoronga, a palavra que o rato okete fala com a terra.
A Terra irá ouvi-lo absolutamente.
Ìyàmi Osoronga você vai conhecer a minha voz.
Ìyàmi Osoronga tudo que eu digo, você vai fazer.
Ìyàmi Osoronga você vai conhecer a minha voz.
Não importa o tipo de entidade espiritual, o que é imperativo e importante é que devemos aprender a parar a guerra desnecessária e o mal que ela trouxe para as pessoas, só porque não gostamos delas e não podemos controlar nossos ciúmes.
Temos que aprender a ir a Ifá e rezar para o nosso esclarecimento e aprender a negociar nossa vida de uma maneira melhor e cumprir o que Ifá e òrìsà orientam.
Mais do que, provavelmente a bruxa, o verdadeiro mal não são as forças que estamos chamando para fazer a guerra que prejudica os outros e os inocentes, na verdade o rosto que reflete no espelho está olhando para você mesma, ou seja, o próprio mal.
Ire gbogbo
Por: Iyanifa Fayomi Falade Aworeni Obafemi
Ile Iwosan Òrúnmìlá Mimo

Abiyan-Ketu/Nagô: Seus Deveres e Responsabilidades.


https://www.facebook.com/pages/Quem-%C3%A9-de-Ax%C3%A9-diz-que-%C3%A9/403232606357482


O Abiyan é toda pessoa que depois de fazer uma consulta através dos búzios com o Babalorixá ou Iyalorixá, tenha tomado no mínimo um Obí e tenha um fio de contas lavado de Oxalá.
O procedimento e comportamento básico do Abiyan.
. Estar vestido de branco principalmente se a casa for de Oxalá; ressaltando que:
- Para os homens – calça comprida e camisa branca;
- Mulheres – Vestido ou saia/camisa branca;
. Ao chegar ir direto beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas e evitar qualquer conversa.
. Tomar seu banho de ervas e colocar sua roupa de morin;
. Bater a cabeça no Axé, na porta dos quartos de Santo; para o Babá/Iyá, “trocar” à benção com TODOS os seus irmãos, sendo por ordem hierárquica (dos mais velhos aos mais novos), de acordo com a ordem iniciada.
. Perguntar ao Babá/Iyá, sobre a função que deverá fazer na Casa; muitas vezes por ordem do Babá/Iyá, as funções podem ser determinadas pelas Ajoiês (Ekédi) da Casa.
. O Abiyan deverá fazer suas refeições sentados na ení (esteira), e assim que terminarem, deverão levantar as mesmas e guardá-las; não devem colocar os pés calçados nas enís;
. O Abiyan somente poderá dormir em ení, caso se faça necessário terá a autorização do Babá/Iyá, para dormir nos quartos dos Orisás;
. O Abiyan ao levantar não deve falar com ninguém, deve antes beber um pouco de água; isso é para apagar os vestígios ou traços negativos provocados pelo mau hálito.
. O Abiyan não deve ocultar do Babá/Iyá qualquer tipo de dúvida, problema e mal entendido.
. O Abiyan não deve fumar na frente de seu Babá/Iyá.
. O Abiyan nunca fica de pé em frente ao Babá/Iyá e sim agachado, com a cabeça baixa.
. O Abiyan nunca interrompe o Babá/Iyá quando estiver conversando com alguém. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogans, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é correto que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Diz então: AGÔ (Licença) e esperar ele dizer AGÔ YA, e de cabeça baixa, falar com ele em tom de voz baixa.
. O Abiyan não deve passar pelo o Babá/Iyá com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente.
. O Abiyan sempre que for servir o Babá/Iyá, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir.
. O Abiyan só deverá entrar nas rodas de Xirê se forem chamados pelo Baba/Iyalorixá.
. O Abiyan tem suas funções na casa relacionadas à limpeza e manutenção, salvo se for um Abiyan antigo e de confiança poderá exercer outras funções.
. O Abiyan não tem Orixá definido ainda, por isso é denominado um Abiyan (aquele que está começando em um novo caminho) mesmo que venha de outra casa.
. O Abiyan deverá sempre pedir Agô para entrar e sair de cada ambiente do terreiro e esperar a resposta, Agô ya de um mais velho.
. O Abiyan só poderá ir embora com autorização do Baba/Iyalorixá.
. O Abiyan não questiona rituais litúrgicos de sua casa, respeita a hierarquia e se coloca sempre no seu lugar.
. O Abiyan deve aproveitar o máximo esse periodo de aprendizado, humildade e retidão, pois é nesse momento que irão refletir quanto a futura iniciação, as responsabilidades do que é ser um Adôxu, um Iyawó.
. A Vivência no axé, a disciplina, observar o comportamento dos mais velhos, ser verdadeiro com seus sentimentos para com o Orixá, estar despojado de vaidades, e entender que o mais importante não é “fazer o santo e sim saber o porque de se iniciar para o santo”. Não há pressa para iniciação, Orixá entende e nos concede essa oportunidade de aperfeiçoamento e adaptação, salvo as raras excessões.
Ser um bom Abiyan é estar se preparando para no futuro ser um bom Iyawó e assim como ser for um bom Iyawó é estar se preparando para ser um bom Ègbón.
De: Mônica D’Òsóòsì-Iyá Kèkèré do Ilé Àse Òsòlùfón-Íwín

Jogo de Búzios 


É um instrumento de comunicação entre o Babalorixá e os Orixás. É através do Jogo de Búzios que os orixás manifestam seus avisos sobre a vida do indivíduo, o que terá que realizar a nível ritualístico (ebó, bori, oferendas, posturas) para a sua harmonização. A descoberta do orixá de cabeça, das restrições, os cuidados que deverão ser tomados serão revelados para cada um, através dos movimentos dos búzios.
  •  Caso queira fazer uma consulta com o Babalorixá Taosilé entre em CONTATO , deixando o E-mail e TELEFONE para que possamos entrar em contato.


Cargos no Axé

Primeiro vamos ver os cargos que também designam uma hierarquia dentro de uma casa de Ketu

1. Yalorixá/Babalorixá: Mãe ou Pai de Santo. É o posto mais elevado na tradição afro-brasileira. 

2. Yaegbe/baegbeé: É a segunda pessoa do axé. Conselheira, responsável pela manutenção da Ordem, Tradição e Hierarquia. 

3. Iyalaxé: Mãe do axé, a que distribui o axé. 

4. Iyakekere Babakekere: Mãe / Pai pequeno do axé ou da comunidade. Sempre pronta a ajudar e ensinar a todos iniciados. 

5. Ojubonã: É a mãe criadeira. 

6. Iyamoro: Responsável pelo Ipadê. 

7. Iyaefun / Babaefun: Responsável pela pintura branca das Iyawos. 

8. Iyadagan: Auxilia a Iyamoro. 

9. Iyabassê: Responsável no preparo dos alimentos sagrados.

10. Iyarubá: Carrega a esteira para o iniciando. 

11. Aiyaba Ewe: Responsável em determinados atos e obrigações de "cantar folhas. 

12. Aiybá: Bate o ejé nas obrigações. 

13. Ològun: Cargo masculino. Despacha os Ebós das obrigações, preferencialmente os filhos de Ogun, depois Odé e Obaluwaiyê. 

14. Oloya: Cargo feminino. Despacha os Ebós das obrigações, na falta de Ològun. São filhas de Oya. 

15. Iyalabaké: Responsável pela alimentação do iniciado, enquanto o mesmo se encontrar recolhido. 

16. Iyatojuomó: Responsável pelas crianças do Axé. 

17. Babalossayn: Responsável pela colheita das folhas. Kosí Ewé, Kosí Orixá. 

18. Pejigan: O responsável pelos axés da casa, do terreiro. Primeiro Ogan na hierarquia. 

19. Axogun: Responsável pelos sacrifícios. Trabalha em conjunto com Iyalorixá / Babalorixá, iniciados e Ogans. Não pode errar. 

20. Alagbê: Responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados. Nos ciclos de festas é obrigado a se levantar de madrugada para que faça a alvorada. Se uma autoridade de outro Axé chegar ao terreiro, o Alagbê tem de lhe prestar as devidas homenagens. 

1. Iyalorixá ou Babalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai. 

2. Iyaquequerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa. 

3. Babaquequerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote. 

4. Iyalaxé (mulher): cuida dos objetos ritual. 

5. Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação 

6. Ebômi: Ou Egbomi são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: meu irmão mais velho). 

7. Iyabassê: (mulher): responsável pela preparação das comidas de santo 

8. Iaô: filho-de-santo (que já incorpora Orixás). 

9. Abiã ou abian: Novato. É considerada abiã toda pessoa que entra para a religião após ter passado pelo ritual de lavagem de contas e o bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender do Orixá pedir a iniciação. 

10. Axogun: responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe). 

11. Alagbê: Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe). 

12. Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe). 

13. Ajoiê ou ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de "Iyárobá" e na Angola, é chamada de "makota de angúzo", "ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil. (em edição) 

Lembro aqui que o primeiro povo a chegar no Brasil, foram os Banto (ou Bantu), o segundo Os Nago trazendo a Nação Ketu e por último os Ewe-Fon que aqui passaram a ser denominados como Djeje, hoje uma grande Nação.

Um tapete para o nosso Odé passar....


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Numa demonstração de respeito de todos os presentes (Ekedes, Ebomis e filhos de santo) na festa de Ogum, retiraram seus panos da costa e fizeram um lindo tapete para que nosso querido Pai Odé passasse! Okê Arô Oxossi!

Memórias da Casa de Òsúmáré


OGUN2
     OGUN DEKISI IMPEDE UMA GRANDE INJUNTIÇA
A fama de Ogum Dekisi, Orixá da saudosa Mãe Simplícia, era conhecida por toda a cidade de Salvador. Pessoas de todos os lugares do mundo vinham até a Casa de Oxumarê para ter a honra de receber um abraço desta divindade de força tão presente. Episódios, como o narrado abaixo, faziam o respeito e admiração pela Yalorixá extrapolar as fronteiras da religiosidade, contribuindo até mesmo para a sua influência política.
Muito bem conceituado como mestre de obras, Seu Hilário, marido de Mãe Simplícia, era sempre requisitado para fazer serviços na área da Construção Civil em várias partes da cidade, mas isso não agradava à todas as pessoas, gerando desconforto e atritos.
Certo dia, Hilário foi convidado para fazer um trabalho em uma residência na Barra, uma casa de uma família tradicional e rica de Salvador. Ao chegar no local, o mestre de Obras, fez a avaliação do serviço e foi embora, voltaria no outro dia para começar. E assim ocorreu, bem cedo depois de seu desjejum, seguiu para o trabalho. Assim que ele saio Mãe Simplícia sentiu algo errado, sentiu vontade de ir atrás dele, porem não conhecia o local do novo trabalho do seu marido. Como esposa dedicada, que era, foi até o pegi de Ogum e pediu que o Orixá olhasse por ele. Assim que terminou de acender a vela, falou para suas que tinha sentindo um aperto no peito e não sabia o que era. Passou o dia inteiro preocupada.
Ao final do dia, por volta das 18h, Mãe Simplícia se sentiu ainda mais agoniada, afinal, seu marido ainda não tinha chegado em casa. Ao ir novamente no pegi, Ogum Dekisi tomou o seu corpo e avisou a todos que estavam presentes:
-Vim aqui apenas para resolver uma pendenga!
Disse Ogum e foi descendo as escadarias da Casa de Oxumarê em direção à Vasco da Gama. As filhas de santo de mãe Simplícia ficaram apreensivas e seguiram o Orixá para onde ele caminhava. De repente estavam em um imenso casarão na Barra. Ao abrirem o portão, encontraram seu Hilário rodeado de Policiais, sendo acusado de um crime que não cometera. Um relógio de ouro tinha desaparecido e Hilário era o principal suspeito e estava sendo encaminhado para a delegacia. Ogum respondeu:
- Foi por isso que vim em terra para dizer que ele é inocente. Desde cedo, eu sabia o que estava sendo armado para culpar este homem e vou mostrar a vocês onde tá o roubo.
Ogum saiu pela casa e em um canto esquecido apontou para os policiais onde estava o velho relógio escondido. Antes, fez questão de dizer para a filha do casal, patrões de seu Hilário:
- Sei que foi você  fez isso para ele ser preso. Se você não quer ele na sua casa, manda ele sair, mas nunca faça alguém pagar por algo que não cometeu.
A garota ao ouvir as palavras da divindade caiu em prantos e assumiu ter levantado o falso para o mestre de obras, simplesmente porque não gostava de negros.
Os pais de prontidão pediram desculpas e quiseram presentear o profissional, que recusou. A família ficou tão grata com o ocorrido e depois desse dia passaram a frequentar a Casa de Oxumarê sempre que podiam. Mãe Simplicia passou a ser sacerdotisa da família.
Essa história se tornou conhecida em toda a cidade e corria junto a fama de Ogun.






Fonte: Candomblé

                  O Mundo dos Orixás