terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Engenheiro do Hopi Hari depõe à polícia de Vinhedo (SP) e reforça hipótese de falha humana

Foto de arquivo mostra o brinquedo Torre Eiffel, onde aconteceu o acidente

Após cerca de três horas de depoimento, um engenheiro do Hopi Hari reforçou à Polícia Civil de Vinhedo (SP) a hipótese de falha humana no acidente que matou uma adolescente de 14 anos, no parque de diversões, na última sexta-feira (24). A vítima era Gabriela Nichimura, que caiu do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador.

O engenheiro é o responsável pela manutenção dos brinquedos do parque de diversões e não teve o nome divulgado pela polícia. De acordo com o delegado titular de Vinhedo, Álvaro Santucci Noventa Júnior, contudo, ele negou a versão dada pela mãe da vítima, em uma entrevista para a TV, sobre suposta ausência de cinto na cadeira ocupada pela adolescente. Em depoimento, o funcionário relatou que o dispositivo, que fica entre a trava de segurança e o assento, é usado desde 2003 no brinquedo, que é de 1999, por determinação da fabricante suíça.

O delegado afirmou que ontem, na perícia realizada no La Tour Eiffel, ele próprio viu o cinto na cadeira em que estava Gabriela. Para o policial, porém, o depoimento da mãe da menina é considerado "chave" para as investigações. Funcionários do parque que atuavam no funcionamento do brinquedo não deverão ser ouvidos esta semana, segundo Noventa Júnior, por estarem "abalados e sob acompanhamento psicológico". Já os pais, disse ele, serão ouvidos ainda esta semana.

"A gente não sabe o que a mãe quis dizer, se não tinha [o cinto] ou se não havia sido afivelado", disse o delegado. "Estamos querendo apurar a questão do afivelamento. É isso que está deixando o engenheiro intrigado, então vamos partir para a tese de uma possível falha humana no afivelamento do cinto”, afirmou Noventa Júnior. Segundo ele, “em tese”, esse afivelamento deveria ser feito pelo funcionário do parque, e não pela menina.

O delegado informou que, de acordo com os testes realizados, o brinquedo funciona normalmente mesmo que algum usuário não esteja usando o cinto de segurança. Segundo ele, o engenheiro confirmou que o preocedimento é esse mesmo e atribuiu a responsabilidade da falta de um dipositivo para avisar sobre o afivelamento ao fabricante do brinquedo.

Ao ser questionado se o depoimento do engenheiro o isentava de culpa, o delegado disse que é cedo para dizer. "A chefia diz aos funcionários como devem operar o brinquedo. Essa informação foi passada para eles e, se deixaram de fazer o afivelamento, por que deixaram? Não é uma situação normal. Mas isso não quer dizer que se limite aí a responsabilidade. Acho que pode desencadear outros responsáveis."

O promotor Rogério Sanches Cunha, que acompanhou o depoimento juntamente com a promotora de Defesa do Consumidor Ana Beatriz Vieira, disse acreditar em falha humana. “Se não for falha humana, não tem sentido o acidente. A única maneira de explicá-lo é o fato de não ter cinto”, definiu.

Uma nova perícia realizada ontem no brinquedo não detectou falhas mecânicas, segundo informou o Ministério Público de São Paulo. Os promotores Rogério Sanches Cunha e Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira acompanharam a vistoria, realizada por peritos do próprio MP e do Instituto de Criminalística (IC).

“Nas várias simulações realizadas nesta segunda-feira o brinquedo não apresentou avaria mecânica”, afirmou, em nota, o MP. A promotoria abriu inquérito civil para investigar a segurança do parque e aguarda a conclusão do laudo da perícia realizada na sexta-feira.

Arte/UOL

De acordo com o perito criminal Nelson Patrocínio da Silva, se o equipamento de segurança estivesse travado antes de o brinquedo subir ele não teria se soltado durante a descida. "Pelos testes que realizamos, não teria chance de isso acontecer. Mas só o laudo final vai dizer se, no caso dela, o brinquedo saiu destravado [do chão]", afirmou. "O problema pode estar na liberação do brinquedo antes de subir."

Mãe diz que não havia cinto

A mãe da adolescente disse domingo (26) em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, que notou a ausência de um cinto na cadeira do brinquedo.

Silmara Aparecida Nichimura disse que estava no brinquedo com a filha e o marido. “Eu falei para a minha filha: ‘Está travado?’ Ela falou: ‘Mãe, está travado'. Só que tem um outro fecho, como se fosse um cinto, e eu observei que o dela não tinha esse fecho", afirmou. “Só que tinha um funcionário do parque no momento e falou para mim: ‘Não tem problema. É seguro’", completou Silmara.

A assessoria de imprensa do Hopi Hari informou que está aguardando o resultado da perícia que vai constatar as causas do acidente.

A mãe de Gabriela disse ainda que não viu o momento em que a adolescente caiu. "Eu ouvi um barulho muito forte e ouvi o grito da minha sobrinha. Não me pergunte como, eu não sei como destravei aquele brinquedo. Só vi quando estava ali, ajoelhada, orando com ela.” Abalada, Silmara lembrou dos momentos com a filha. “A gente saía para comer junto, a gente ia à igreja junto, a gente dançava junto, tudo a gente fazia junto”, disse.

Na última sexta-feira, o delegado ouviu três testemunhas que disseram que a menina caiu após a trava do assento em que estava abrir.

Os pais da garota são brasileiros, moram no Japão e passavam férias na casa de parentes em Guarulhos (Grande São Paulo), onde a adolescente foi enterrada no sábado (25).

Acidente

O acidente ocorreu por volta das 10h30 de sexta-feira (24). A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.

Em nota, o Hopi Hari informou que "lamenta profundamente o ocorrido" e que "está prestando toda a assistência à família da vítima e apoiando os órgãos responsáveis na investigação sobre as causas do acidente".

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